domingo, 27 de maio de 2018

Minha decisão...


D
omingo, uma tarde gostosa, sozinho, tranquilo, assistindo um futebol, depois de uns drinks com amigos, me vem um momento de reflexão. Sinto aquele incomodo já conhecido de meu joelho, que nos dois últimos dias me deixou quase sem andar.  Para ler e escrever, os óculos são imprescindíveis, e na prateleira umas caixinhas de remédios, que minha médica diz que não é nada demais, mas cacete, se é assim por que ela não os toma em meu lugar?

Aí começamos a navegar em pensamentos sem limites. E uma questão veio à minha mente. Se o tempo fosse “mexível”, e se tivesse uma opção de escolha, será que valeria a pena trocar os amigos, a família, com os altos e baixos, por uma nova vida, com bem menos cabelos brancos, joelhos bons, e um corpo novo e saudável?  Confesso que ao me fazer esta pergunta, numa análise bem fria, me engasguei na resposta. O tempo, que já foi motivo de muitos drinks em nossas conversas, é naturalmente implacável, não para. A consequência, para todos nós, é um envelhecimento inevitável, que uns curtem mais do que outros, se tornam mais amáveis, outros mais ranzinzas, menos otimistas, e eu me coloco no time dos mais tranquilos, acho até que gosto mais de mim como sou, mais tolerante, mais livre para errar, e de me comportar do jeito que eu gosto, sem muita censura, seja de quem for.

Mas se tivéssemos a obrigação dessa escolha maluca? Se você, num determinado momento, se alcançasse determinada idade, por exemplo, nossos 60 anos, tivesse que escolher entre manter a sua vida tal como ela é, dando continuidade ao seu envelhecimento natural, ou um rejuvenescimento em outra vida, sem a família de hoje, sem os amigos, e sem os remédios que a cada ano aumentam em nossas prateleiras?  Para muitos uma decisão muito difícil, talvez até mesmo impossível, mas seria capaz de apostar que teríamos muitos “renovados” andando entre nós.

Com nossos sessenta e poucos anos, já passamos por várias turmas, mas é claro que é comum mantermos, além da família, algumas células básicas de amizades, que hoje, com o apoio das redes sociais, são fortalecidas e até mesmo renovadas. Infelizmente muitos de nossos parentes e amigos já nos deixaram, alguns até cedo demais, sem o tempo de alcançarem os benefícios (?) e a liberdade (?) desse nosso tempo de vida.

Em linhas gerais, não deveria haver censura para os idosos que ainda se encontram ativos, e menos ainda, para aqueles que simplesmente preferem o merecido ócio, sem tempo para dormir ou acordar, mas nesse momento de decisão, é certo que viria em nossas mentes não apenas esses momentos atuais mas também, e com muita força para alguns, aqueles que formaram o nosso passado, a nossa vida passageira, com os amores perdidos, os que ficaram, os que deveriam ter ficado, os locais que conhecemos, as pessoas e, em especial, a família e os amigos.

E ainda pensando nessa loucura, imaginamos como poderia ser este momento. Talvez, numa sala especial onde se encontraria um grupo de pessoas, todos na mesma idade, e aguardando a hora de decidir o seu caminho. Ao seu redor, pessoas desconhecidas, familiares, e amigos de vários grupos. Alguns já decididos, prontos para serem renovados para uma nova vida, novas aventuras, quem sabe uma nova família e novos amigos.  Outros prontos para voltarem para suas casas e darem continuidade ao seu envelhecimento, ao lado de seus familiares, amigos e suas lembranças.  E num canto, mais nervosos, agitados, um grupo de pessoas ainda nitidamente indecisos. Cada um com sua razão. Uns com leves sorrisos, que pareciam não entender o que estariam fazendo ali, as fichas ainda não tinham caídas.  Outros, em prantos, pareciam ter medo das mudanças que viriam. Teriam que arriscar uma situação melhor, ou mesmo de conseguirem melhorar a situação que tinham na vida atual.

Eu me vejo num canto, pronto para decidir. Olho para essa turma toda e faço uma reflexão de como foi meu tempo, do que fiz e deixei de fazer, e também do que poderia fazer. Penso que não aceitando, meus cabelos ficariam mais brancos, ou mesmo sumiriam, minha memória poderia começar a falhar e os remédios não parariam de ser receitados. Na minha família e nos amigos, os que iriam na frente e os que viriam a minha partida, e mesmo se teria mais oou menos tempo de vida pela frente. Por outro lado, se desejasse a renovação, ganharia uma nova chance de vida, que poderia ser melhor ou pior da vida que levei e que levo até hoje, e quem sabe poderia até não chegar novamente aos sessenta.

No entanto estaria ali para responder uma pergunta, para tomar uma decisão, uma situação que muitos já teriam passado e outros estariam na porta para também decidirem. O que fazer? O que responder? Muito simples, minha decisão seria...