terça-feira, 4 de agosto de 2020

Tudo na vida tem pelo menos dois lados, até na pandemia

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 udo na vida tem pelo menos dois lados, duas escolhas, dois caminhos, e o isolamento social provocado pela pandemia da COVID19 também tem seu lado interessante, muita gente passou a se interessar um pouco mais pela leitura, mesmo que pela internet, e quem lê mais, tende a também escrever mais.

Exemplo disso podemos observar nos diversos grupos de relacionamento, e os nossos não fogem à regra. E quando não escrevem, reproduzem, compartilham, dão opinião sobre o que foi lido, e assim também exercitam o ler e o escrever.

Dois de nossos amigos,  os maninhos Frango e Mário, quase no mesmo dia, compartilharam um texto de Rica Perrone ( "Você já foi a um Samba ?”  )  e Mário, um cara cada vez mais inspirado em suas colaborações, sugeriu sua publicação em nosso blog.

Ao ler o texto entendi perfeitamente o porquê da intenção de Mário, pois até parece que Rica Perrone, jornalista que adora o futebol e o samba, conhece bem a nossa turma.

Como o texto já viralizou pela grande rede, entendemos que ao postar seu texto estamos não somente fazendo uma homenagem a quem escreve fácil e divertido,  mas também guardando suas palavras que realmente nos tocaram de forma bastante positiva.

“Eu não me refiro a um pagode num bar com camisa polo e calça jeans. Me refiro ao samba. Talvez, como eu por boa parte da minha vida, você desconheça o que de fato chamam de “samba”.

Não é nem mesmo um ritmo definido. Confunde-se com pagode, samba enredo, até mpb é samba. Talvez porque samba não esteja no ritmo e nem na batida. Mas sim no ar.

Num samba você sorri pro inimigo. Se olhar pra mulher errada é capaz de abraçar o marido e se desculpar. Ninguém discute. Ninguém está puto. Tem algo que não sei colocar em palavras.

Tem senhoras de idade, crianças, gays, negros, brancos, pobres, ricos, e nenhuma possibilidade de separa-los só pelo olhar. Talvez o mais rico esteja de chinelo, o mais pobre no palco tocando pra você. Não se sabe.

O que se sabe é que samba é um pretexto. Tal qual o futebol e o churrasco, você não vai com uma finalidade prática. Ninguém vai ao samba pra ouvir samba apenas.

Vai porque quer paz. Alegria, a leveza de repetir as mesmas músicas toda semana, até mais de uma vez no mesmo samba, e ainda assim erguer os braços, fechar os olhos e se emocionar com ela.

“Madureiraaaa…” e pronto, todo mundo sabe que é hora do “lalaia”. Todo mundo tem o “seu samba”, como Arlindo tem o “seu lugar”. E quando ele toca parece só seu.

Todos te entendem. É absolutamente comum ver alguém rodando de olhos fechados numa música e ninguém em volta repudia. Porque “a sua hora vai chegar”.

Cerveja gelada e de garrafa. Não tem espumante. No máximo uma caipirinha.

No samba o petista e o bolsominion cantam “insensato destino” juntos brindando. E juro, não é droga. Aliás, é disparado o ambiente festivo/musical onde vejo menos drogas.

Sambista não fala mal do rock, do sertanejo, do funk. Não compete. Junta.

Samba é ser brasileiro. Não gostar dele é renegar uma cultura e não um estilo musical. E mesmo se você não gostar da música, é impossível você não gostar DO samba.

Se o Brasil fosse um país sério o hino nacional seria tocado no cavaco, cantado pelo Xande de Pilares, com o Wander Pires anunciando que a hora é essa.

Teria paradinha pro refrão, brinde pro “filhos desse solo és mãe gentil”, e o Zeca de fundo dizendo “E essa terra é o que?” pra que o povo erguesse os copos de cerveja e cantassem “terra adorada! Entre outras mil és tu Brasil é pátria amada”.

“E os filhos?!”, diz a Beth! E o povo repete o refrão.

Que sonho. Aliás… “sonho meu... Sonho meu…”…”

Texto: Rica Perrone