quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Uma história no carnaval da pandemia

 

S

egunda-feira de Carnaval, o Carnaval da Pandemia, que com certeza ficará gravado nas nossas mentes para sempre. E para mim, um dia que começou bem agitado.

Recebo uma ligação de meu filho, antes das 8:00h, o que já assusta qualquer um, e veio a notícia, ele e família, ou seja, mulher e 4 crianças, estavam chegando de Belford Roxo e esqueceram as chaves de casa, e não tinham como entrar. O que fazer? Ligar para o papai.

Eu no Recreio, mais ou menos uns 70km de distância, mas por sorte, ou por aquela prevenção do mais idoso, sempre carrego uma cópia das chaves deles no meu chaveiro, e tinha que decidir qual a melhor e mais rápida decisão a tomar.

É fácil imaginar a situação do caos. Minha neta com 2 anos, os outros com 3, 5 e 7, todos com fome, ela chorando, fazendo xixi ou cocô, quem sabe, e tendo que ficar na rua, na calçada, parados em frente à casa. E do outro lado do Rio de Janeiro.

Logo chega a avó, elas tem um ouvido extremamente sensível às merdas que acontecem com os filhos, e quando percebe que naquela hora eu conversava com um filho longe de onde estávamos, já pergunta o que está acontecendo com aquele jeito meio desesperado de mãe querendo saber o que aconteceu. E para ajudar no imbróglio chega minha filha, também já questionando o que houve.

Minha primeira preocupação foi em acalmá-las. Disse que estava tudo bem, mas que tinha um probleminha para resolver. Pedi que meu filho esperasse um pouco e que iria ver a solução mais rápida, pois eu estava com as chaves e o problema era apenas fazer chegar até ele.

Minha filha foi logo decidindo por chamar um aplicativo (UBER ou 99) e pronto, no que concordava a mãe. Parecia o mais indicado, no entanto, mesmo numa segunda-feira de Carnaval, e no meio de uma Pandemia, a solução não era tão simples. O tempo para chegar onde estávamos era de mais ou menos, 15 minutos, e o valor em mais de 130 reais, e por esse valor, e a demora para chegar o carro, que poderia até ser maior, resolvi ir para Niterói, chegaria mais rápido, saindo naquele momento, e com um custo muito menor, e iria fazer um passeio de ida e volta, além de dar um alô para meu filho e minha nora e claro, um beijão bem grandão nas crianças.

Para dar um toque a mais, começou a chover no caminho, o que me obrigou a ter um cuidado maior na direção, mas mesmo assim, um trajeto que costumo fazer em tempos normais, sem pressa,  no máximo em 1 hora e 30, consegui chegar exatamente em 1 hora.

Na minha chegada reparei uma viatura policial parada do outro lado da rua e até pensei que eles poderiam ter pedido alguma ajuda, mas não disse nada e estacioneir na rua ao lado da casa. Para minha surpresa, minha nora e os três meninos estavam na área interna do prédio, em conversa com meu filho que carregava minha neta, de 2 anos no colo, já com cara de choro. Soube então que minha nora tinha escalado e puladoa grade com as 3 crianças, foi a forma que eles acharam para proteger e acalmar os meninos, no entanto não esperavam que este ato, principalmente num período de carnaval, e a cidade com pouco movimento, fosse interpretado por um vizinho como uma possível invasão de domicílio, e chamaram a polícia para ir ao local.

E mal cheguei os policiais encostaram e foram nos questionar o que estava acontecendo. Por sorte chegamos praticamente juntos e deu tempo para abrir o portão e entregar as chaves para o apartamento, que fica no próprio andar térreo, e fui conversar com os policiais.

Não tinha o que reclamar. Nessa época de dificuldades, a cena de uma mulher pular uma grade com três crianças e ficar conversando com o parceiro e mais uma criança no colo, poderia realmente ser caso de polícia. Pode até ter sido um pouco de precipitação, mas preferimos aceitar como prevenção. Os policiais também entenderam a situação e um deles chegou a me questionar se tinha algum apartamento para alugar no prédio.

Assinei a ocorrência e fui conversar com eles, foi quando soube que minha nora  ia sair para trabalhar e que estava encima da hora, e se eu não chegasse naquele momento, ela teria que faltar ao trabalho, e seria mais um problema, que por graça não aconteceu e ela pode ir, meio que apressada, para o seu serviço.

Bom, o mais importante é que todos estavam bem e o vovô pode ajudar, mas claro que não terminou a historinha. Todos em casa e vovô para o mercado e para a cozinha.

Meu filho, apesar de já estar se familiarizando com as panelas, ainda não é um especialista, então ele cuidou da casa e das crianças, e eu fiquei para fazer um almoço rápido, mas antes peguei minha netinha e fui dar uma volta com ela para tentar achar um Chaveiro 24 horas, pensei até em chamar meus amigos Márcio e Renato, mas preferi passear e não consegui achar um “24 horas” que estivesse funcionando.

De volta, fui para a cozinha, preparei uma bela macarronada, deixei um lanche encaminhado, aproveitei para comprar umas cervejinhas em promoção e retornei para o Recreio. Confesso que gostei do passeio, de ver e brincar com a garotada, de puxar as orelhas de meu filho que estava apenas com um jogo de chaves para eles. Só não sei dizer se já fizeram cópias das chaves para eles, pois quero as minhas de volta.

Por fim, o carnaval não pode passar sem uma história pra contar, mesmo numa pandemia.