domingo, 17 de maio de 2020

O Furúnculo (serial killer)

Um dos efeitos colaterais da quarentena é a mudança de comportamento, pois somente o fato de você não poder sair, não poder sentar num barzinho com os amigos, uma terapia que algumas pessoas não entendem, principalmente as esposas, pois na visão delas, não tem nada lá que não pudesse ser feito ou dito em casa, e sabemos que não é bem assim, mas isso é um outro problema, pois sentimos que alguns de nossos amigos passaram a buscar outras ocupações. Eu montei um quebra-cabeça de mil peças, retomando um hábito de mais de 30 anos atrás e nosso amigo Dellaney, ou Zé Bedin para os mais íntimos, assim como Mário Neves, nosso Comendador, resolveram atender nossa sugestão e nos presentearam com alguns textos.
Mário, ainda acanhado, mas já se fez presente mais de uma vez, mas Della fez sua estreia com uma crônica em que comenta sua luta implacável de uma série de furúnculos que o atingiu nos últimos meses, um verdadeiro ataque viral de um serial killer que segundo ele foi derrotado, e que espera, em definitivo. 
Vamos nessa, ao ataque... para o campo de batalha .... como nos velhos tempos o Bedin costumava enfrentar seus inimigos.


C
omo se não bastasse o tal de coronavírus, que  gerou  tanto a harmonia e união para combate-lo, como também um foco de  terror entre governistas e oposição, vem em meu tão querido e amado corpo, uma antiga bactéria, bem  conhecida do meio acadêmico, a temida  Staphylococcus Aureus, a mais perigosa de todas as bactérias estafilocócicas mais comuns. 

E que bactéria!  Pela experiência,já sabia que ela é normalmente encontrada na pele e nas fossas nasais de pessoas saudáveis, e que dependendo da imunidade do indivíduo, pode provocar doenças, que vão desde uma simples infecção cutânea até situações mais graves, como pneumonias, doenças cardíacas e mesmo ósseas. 

E vim a  descobrir que desde muito tempo a danada da estafilocócica se encontrava alojada quietinha  em meus órgãos, sistemas, divisões e tecidos, mas sem fazer alarde, sem me incomodar, só na espreita para um dia me aterrorizar. Na verdade eu tinha uma boa imunidade, talvez pela ingestão dos drinks ao longo da vida, e com isso ficava bem protegido dos possíveis ataques da temível Aureus.

E num momento de fraqueza, o inimigo passou pelas minhas trincheiras e me atacou na forma de um grande furúnculo, mas não apenas um, veio outro e mais outro, uma verdadeira agonia (uma serial killer), que começou pela perna, subiu para a nádega direita, a do fígado, foi para a face direita, bem na bochecha, passou para o outro lado e finalmente chegou na cabeça, pouco acima da orelha esquerda. Vieram com disposição, três juntinhos em um só local, e quando passava cotonete para limpar, sentia que a ponta com algodão entrava todinha, um lugar que só não foi mais chato que o espinhão na bunda, que me atrapalhava sentar.

Iniciei um tratamento comum para infecções na pele. Primeiro com pomadas antibióticas, depois passei para os comprimidos, e claro não faltavam as sugestões dos mais entendidos, que recomendavam xaropes, banhos, rezas e raízes, e enquanto isso eu aguardava os resultados dos exames  na esperança de que os bichinhos se acalmassem.

No entanto, após esse sofrimento (com a serial killer) dar a impressão que não passaria, meus amigos eram unânimes na recomendação pela famosa  benzilpenicilina benzatina, a famosa Benzetacil, a penicilina mais conhecida de nossa juventude, quando três doses de 1.200.000Ul, era a receita básica para derrubar qualquer gonococo resultado de nossas aventuras. Só tinha um probleminha, doía demais, e deve doer até hoje, e a recomendação era sempre tomar nas nádegas, apesar que tinha maluco que arriscava no braço, e até hoje se arrepende disso, não é Drinks e Kleton?

O que fazer? Estava insatisfeito com a reação de meus anticorpos, e resolvi  partir para o campo da batalha, para a "guerra". 

- Agora chega, ou eu ou você.  E saí sedento na captura da bandida Staphylococcus Aureus  e conquistar minha cura, eu a via como se fosse a verdadeira causa da "COVID 19". 

- Staphylococcus Aureus, sua bactéria de merda, sua hora chegou, venha, estou  armado  com meus antibióticos, e já conhecemos suas táticas.  Atacar ..... 

Enfim, entretanto e todavia, depois de umas doses de meus aliados, conseguimos vencer a guerra.

- ... para seu governo,  seu reinado em meu corpo microbiano acabou, vamos voltar ao equilíbrio de nossas forças. E só para lembrar, a “VID 19” ainda está viva e na ativa. 

Della, flor, natureza amor!  
Para o povo e pelo povo!
 

quarta-feira, 13 de maio de 2020

Máscaras da Abolição


 Mário Neves é um cara bom de papo e bom de drinks, um amigo leal, sincero, e sensível aos movimentos sociais. A quarentena tem despertado sua veia literária e hoje, um dia especial para o brasileiro, e também para o mundo das nações livres e democráticas, mas que poucos comemoram e que muita gente nem se lembra, comemoramos mais um ano daquela que podemos dizer que é uma Lei que não deveria ter existido, pois ela deixa claro que a ordem natural não seguiu seu rumo.
O Brasil, de pouco mais de 100 anos, mantinha homens e mulheres, de todas as idades, sob o chicote de seu "donos e capatazes", e o negro era o "objeto de consumo", uma mercadoria para uso doméstico ou nos campos, e o que não deveria existir de forma natural, foi preciso a assinatura de uma Princesa para corrigir essa anormalidade da sociedade.
As marcas não se apagaram de todo, ficaram cicatrizes que dificilmente sumirão por completo, e nosso amigo Mário fez questão de lembrar, de deixar sua voz escrita, como marca de uma abolição que ainda se constrói, pois para muitos, até os dias de hoje elas escondem uma realidade cruel, onde o preconceito ainda vive.
Obrigado Mário, que um dia suas palavras sejam apenas lembranças de um passado que nunca deveria ter existido.

 

Hoje, 13 de maio de 2020, celebra-se os 132 anos da assinatura da Lei áurea, que tornou ilegal a Escravidão no Brasil.  E em tempo de pandemia colocaram uma máscara na estátua da Princesa Isabel, que empresta seu nome para a Avenida que liga o bairro de Botafogo ao Leme e Copacabana.

A máscara hoje ali colocada, além da pandemia, representa muito mais, é tentar calar a boca de uma raça!


Substimar, matar, aniquilar o direito de sonhar, selecionar, marcar (a ferro e fogo), são marcas que permanecem vivas. São marcas que a história ainda marca todos os dias.



Não é uma data para celebrar e sim para refletir o sofrimento de homens e mulheres que integram vários povos em todo o mundo.
té hoje rolam as lágrimas silenciosas por cima das Máscaras da Abolição.

sexta-feira, 1 de maio de 2020

Um Abril diferente


A
bril de 2020, um abril diferente, assim começou nossa conversa virtual com Mário, o Comendador, que logo se ampliou com os convites para outros amigos e a conversa, como outras durou algumas horas de um papo que não vimos esse tempo passar.
Depois, no outro dia Mário me disse que tinha uma nova contribuição para o blog, mas que era um texto simples, pequeno, e que eu poderia dar uma contribuição, assim como o outro que ele já tinha enviado e que trabalhamos juntos para a publicação.
Tinha certeza que era algo bom, pois Mário tem uma veia literária muito boa, é uma pena que não a explore mais, quem sabe depois desse abril não vem mais por aí.
O texto era interessante, mas tinha uma queda poética. Suas palavras estavam encaixadas, faltava apenas um amigo para entender o que ele queria dizer, e o resultado nós vamos ler a seguir. Esperamos que gostem, eu gostei e parabéns ao Comendador Mário Neves.


Abril 2020, um Abril diferente,
você perto, mas sem poder estar com a gente.
Abril na cidade grande,
Mas parece o interior,
onde a vida é mais serena....
mais cheia de cor.
Abril que trocamos o vai e vem das pessoas, dos carros,
Daquela agitação habitual,
Daquele barulho infernal....
Pelo Abril silencioso,
Mas por demais medroso....
Abril de máscara e mascarados,
sem ser dia de Carnaval....
Abril do cantar dos pássaros
Bem-te-vi, Tucanos, Maritacas
e também do porco-espinho, gambá.
dos micos, tamanduá ...
Abril de praias limpas e águas vivas
Das tartarugas, siris, bagres e muitos mais
Abril da Marina, na Glória,
De um passeio na orla
Onde esquecemos  esta parada forçada
Mas acreditamos na vitória
Numa vida melhorada
Abril, cujo silêncio é a palavra mais forte
É a voz do medo.....
Que vem do vento do sul e do norte.

Mário Neves
(Adaptação por J Drinks)