segunda-feira, 10 de março de 2025

Gene Hackman e "A Toca do Lobo"

Hoje, dia 10 de março de 2025, ao passar mos pelas postagens de nossa Redes Sociais, em nosso Grupo Corrêa Dutra, dentre as diversas mensagens divertidas, de futebol, política e outras coisas mais, nos deparamos com uma muito especial, enviada pelo amigo confrade de muitos anos, Robson Pirata, um especialista também em garimpar fatos interessantes, e esta, sem título, veio assinada por "

A Toca do Lobo
", que fazemos questão de deixar o registro.

Seu tema nos chamou muito a atenção porque vai de encontro a uma situação muito comentada em outros diversos canais e causou um certo espanto quando a polícia deu sua visão para o fato. Uma casa de famosos, que precisou ser arrombada, e nos seu interior, dois idosos e um cachorro morto. Como isso poderia ter ocorrido, principalmente sem chamar a atenção de ninguém?

O texto em seguida nos mostra a situação por um ponto de vista implacável, que merece nossa atenção não apenas para a reflexão, para que algumas ações possam ser implementadas em relação aos cuidados com os idosos, classe em que hoje nós também nos incluímos.

E mais uma vez, obrigado Robson por esta contribuição.

O destino tem um senso de humor peculiar. Às vezes, cruel. Um dia, você é Gene Hackman, vencedor de dois Oscars, aclamado por sua genialidade em cena, aplaudido por multidões que jamais o conhecerão de verdade. No outro, você é apenas um senhor de 95 anos, frágil e esquecido, sentado em uma casa grande demais para sua solidão, esperando que o telefone toque. Mas o telefone não toca.  

A fama, essa entidade volátil que um dia ilumina e no outro apaga, já não lhe pertencia mais. O mundo seguiu em frente, como sempre segue, e o homem que outrora fora protagonista tornou-se figurante de sua própria existência. 

Sua amada esposa, Betsy, partiu primeiro, silenciosamente, dentro do banheiro. Uma doença rara, transmitida por ratos, roubou-lhe o fôlego, mas ninguém percebeu. Gene não soube o que fazer. Não ligou para ninguém. Não pediu ajuda. Talvez nem soubesse que precisava. Alzheimer é uma doença cruel, que apaga lentamente a percepção do mundo. O homem que um dia interpretou detetives geniais, políticos astutos e vilões brilhantes, agora não conseguia sequer compreender a ausência da mulher que esteve ao seu lado durante décadas.

Os dias passaram e o silêncio tornou-se absoluto. A fome chegou, mas não encontrou resistência. O cachorro, leal até o fim, permaneceu ao lado do dono, tão esquecido quanto ele. Talvez Gene tenha chamado por Betsy em algum momento. Talvez tenha andado pela casa, confuso, tentando encontrar uma explicação para aquele vazio que o rodeava. Ou talvez tenha apenas se sentado em sua poltrona, esperando que alguém batesse à porta. Mas ninguém bateu.  

Nem os vizinhos, nem os amigos, nem os fãs que um dia lhe enviaram cartas apaixonadas, nem mesmo alguém da família. Ninguém. Gene, perdido no labirinto da memória falha, permaneceu na mesma casa, incapaz de entender, incapaz de reagir.  

O que é, afinal, a fama, se no momento final ninguém sente sua falta? Onde afinal estavam os filhos, netos e até ex-colegas de trabalho? Como um casal pode desaparecer do mundo sem que ninguém note? A resposta é brutalmente simples: a vida segue sem olhar para trás. A glória é uma promessa passageira, um eco que se dissolve no tempo.  

Quando a polícia finalmente abriu a porta, encontrou um cenário de abandono. Dois corpos, um cão morto, e uma casa que havia se transformado em um mausoléu sem flores, sem velas, sem despedidas. O homem que um dia fez o mundo rir, chorar e prender a respiração, partiu aparentemente sem testemunhas, sem cerimônias, sem um último aplauso.  

A fama é barulhenta, mas o esquecimento é sepulcral.

No fundo, todo ser humano carrega um pedido silencioso de amparo, um desejo secreto de que alguém esteja lá quando as luzes se apagarem. Não para impedir o inevitável, mas para ser testemunha de sua travessia. É preciso ter quem nos segure, quem nos nomeie, quem nos lembre de que existimos antes que o tempo nos dissolva.

A Toca do Lobo 🐺

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Vovô Dureza e o Pequeno Carro Vermelho

 Amigos e Confrades

Vamos iniciar o ano com um texto diferente, um pequeno conto, uma historinha simples para nossa reflexão.

O Pequeno Carro Vermelho

Era uma vez, em uma pequena cidade litorânea do Brasil, um homem conhecido por Vovô Dureza que, aos 70 anos, encontrou-se refletindo sobre a solidão que o ameaçava. Parentes e amigos, alguns de longa data, já haviam partido, deixando-o com memórias seguido de um triste silêncio.

Enquanto caminhava pela praia para clarear a mente, Vovô Dureza tropeçou em algo meio enterrado na areia. Era um pequeno carro de brinquedo vermelho, desbotado pelo sol e pelo sal. Ele o pegou, pensando em como algo tão simples poderia trazer tantas lembranças de tempos mais felizes.

Vovô Dureza decidiu levar o carrinho para casa, colocando-o em um lugar de destaque em sua sala. O brinquedo parecia fora de lugar naquele ambiente de adulto, mas trouxe um sorriso ao seu rosto. Foi então que ele teve uma ideia, se aquele pequeno carro podia trazer alegria a ele, talvez pudesse fazer o mesmo por outros.

No dia seguinte, Vovô Dureza foi até um orfanato local e doou o carrinho de brinquedo. As crianças ficaram encantadas com o presente inesperado, e a alegria delas aqueceu o coração do Vovô Dureza. Aclamado pelas crianças como Vovô Moleza, ele começou a visitar o orfanato regularmente, contando histórias e brincando com as crianças.

Com o tempo, o Vovô percebeu que sua solidão havia sido substituída por risadas e novas amizades. Ele aprendeu que, mesmo na chamada terceira idade, ainda podia fazer a diferença na vida de alguém e que, às vezes, a chave para seguir em frente pode ser encontrada em um simples ato de bondade.

E assim, o Vovô Dureza, ou Vovô Moleza, para as crianças, encontrou um novo propósito, e seu coração, outrora quase solitário, agora estava cheio de amor e gratidão.