O Byra não resistiu ao artigo de nosso confrade Marco Charuto – “Dê-me uma nação em crise e eu te darei um salvador da pátria” (postado em 19/07) e nos encaminhou a seguinte reflexão.
"Nosso país atravessa um momento político difícil e imprevisível, e neste momento devemos estar atentos contra os oportunistas. É óbvio que, mesmo sem provas documentais, as denúncias de corrupção trazidas ao público são graves e, concordemos ou não, reconheçamos ou não a legitimidade dos métodos ou das intenções do delator, expõem as vísceras podres de um sistema viciado totalmente infeccionadas pelas práticas espúrias e ultrapassadas de um Parlamento medíocre que fazem nossa crença política agonizar. Mesmo os analfabetos políticos, percebem que, sob a lama espalhada escondem-se verdades assustadoras que comprometam a já pouca credibilidade da atual classe política.
Lembremo-nos que a corrupção é o castigo por nossa omissão e nosso subdesenvolvimento político. O que estamos vivendo hoje são exatamente as conseqüências dos duros anos de exceção que o país viveu, perdeu-se uma geração em termos do amadurecimento das práticas democráticas e na formação de lideranças políticas.
A deterioração - proposital - do sistema público de ensino, mudanças dos currículos, censuras e proibições dos grêmios e dos centros acadêmicas etc., forjaram uma geração despolitizada. Como exemplo desta grave situação temos a criação do famigerado sistema de créditos nas universidades (atenção: as escolas militares até hoje não adotam tal sistema, preferem continuar com suas 'turmas anuais’ que solidificam a camaradagem e as lideranças no grupo). É desnecessário ficar elencando as mazelas que nos deixaram como herança. A corrupção que se vê hoje, não era menor naqueles negros tempos de grandes obras simplesmente não vinha ao conhecimento do público devido à censura.
Estamos vivenciando momentos graves de aprendizado, resgate de valores e ajustes. A tolerância faz-se necessária, e, principalmente, a participação efetiva da sociedade para aperfeiçoarmos e solidificarmos as boas conquistas.
Não será com o atual congresso - carente de legitimidade moral - que conseguiremos realizar as reformas políticas tão necessárias. Nossas instituições políticas encontram-se em completa desordem, mas qualquer interferência a ser feita, deverá ocorrer de forma democrática, preferencialmente pelos instrumentos de pressão que possuímos: participação ativa junto aos partidos e aos políticos eleitos, inclusive com os homens livres e de bons costumes que se julguem com perfil para a política, filiando-se a partidos e defendendo suas idéias naquele fórum; voto certo e consciente; carta aberta aos jornais etc. enfim, debatendo e participando, com certeza vamos aprender e fazer. É muito cômodo - e sem riscos - solicitar que se faça por nós, principalmente desejar uma tutela militar e nos acomodarmos como uma classe média burguesa sem compromissos maiores, difícil é chamar a responsabilidade pra nós e combatermos os corruptos e um sistema viciado com as armas democráticas: participação, imprensa livre, voto etc., o processo é mais demorado (talvez demore outra geração), mas é sólido. Devemos manifestar repúdio a qualquer proposta de tutela, pois só num regime democrático, sem restrições de nossas liberdades, com a participação ativa da sociedade, tal situação poderá ser revertida, mesmo que demore algum tempo. Devemos investir numa geração porvir, melhor do que a atual. Defendo que qualquer democracia ruim é muito melhor que uma "ótima ditadura", se é que possa existir tal aberração.
Não acredito - como já ouvi alguns se manifestarem - em 'um sistema em que os governantes são controlados por uma força que tem poderes para trocar quando os governantes não funcionam' se esta força citada não for o povo. Há de se melhorar a condição do povo para que ele exerça a sua força através da educação, cultura, conscientizaçã o e participação, sem tutelas. O parlamentarismo talvez seja o sistema ideal, quando o povo for mais instruído, consciente e preparado; no momento, devemos aprender com o presidencialismo e o voto consciente. Quando os governantes não funcionarem em seus mandatos vamos trocá-los, democraticamente, pelo voto ou pela cassação do mandato, quando necessária.
Não consigo entender – mesmo ‘em tese’ – que “qualquer tipo de ditadura” seja a solução para os momentos difíceis que nossa novíssima e frágil democracia esta enfrentando. É mais perigosa a divulgação de idéias sugestivas de quebra da normalidade constitucional que possam comprometer a nossa liberdade tão duramente conquistada. A sociedade organizada deve repudiar tais propostas e, mesmo indignados com o caos instalado – devemos entendê-lo como temporário -, não devemos compactuar com ‘proposições milagrosas’ que se apresentem em oposição à ordem democrática instituída.
Devemos ter cuidado, sim, com a nossa manifestação junto à sociedade e, não, com a liberdade de se expressar de qualquer segmento da sociedade, inclusive os políticos oportunistas, pois, estes, não conseguirão enganar a todos por todo o tempo.
Não podemos perder de vista o ideal de liberdade, igualdade e fraternidade que deve ser levado às últimas conseqüências. Não podemos nos esquecer do passado, onde muitos perderam suas próprias vidas em defesa dessas sublimes idéias. A democracia é uma conquista, não uma dádiva."
Um comentário:
É isso aí Byra!
Nada substitui a nossa capacidade e nossa liberdade de escolha. Parabéns pela mensagem!
Aos que acreditam em ditadores bem intencionados, uma pergunta: Quem serão os "iluminados" que escolherão esses "bem intencionados"?
bjundas!
Beto Chahaira
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