Claudia é amiga a quase 30 anos. Nos vimos pela última vez em 81. Depois disso, só agora em janeiro quando fui com Cecília, visitá-la em sua casa e do Vieira. Outro grande amigo de adolescência e que não o via por igual período.
Falamos de histórias que vivemos, de épocas que não estávamos juntos. Enfim, falamos...falamos...falamos.
Claudia nos contou uma história que representa bem o espírito carioca. O jeito descontraído de ser e que encanta a todos.
Aconteceu no Arpoador. Após completar seu running matinal, Claudia deu uma paradinha na praia do Arpoador, antes de ir para casa. Dia de céu azul, águas verdes, transparentes. Tudo contribuía para um bom mergulho. Mas sabemos que se estivermos sós e quisermos mergulhar, é bom deixarmos nossas roupas e apetrechos, com alguém que possa cuidar, e claro, que nos inspire confiança. Procurou...procurou...e...por incrível que pareça, não havia uma pessoa que preenchesse os requisitos básicos. Foi então que alguém que tocou no ombro:
- Oi Nem! Quer dar um mergulho né? Se quiser, eu tomo conta pra você.
Era uma legítima representante do final da linha Copacabana-Olaria, o famoso 484. Muito falante, conversava com qualquer pessoa. Figura pra lá de...digamos, exótica. Um biquínão de lycra preta brilhante, óculos pretos, daqueles de R$ 5,00 lá no Saara. O cabelo era loiro, tipo Wellamed Louro Hyper Blond Saracura do Brejo, à la Ana Maria Braga. Sua pele brilhava, denunciando o óleo de bronzear de almofadinha, aquelas vermelhinhas que só se compra na praia. As pernas com uma camada generosa de amônia com água oxigenada era a esperança de dourar os pelos que lhe conferiam um ar de Mico Leão Dourado Gigante.
Claudia agradeceu-lhe a gentileza e meio sem ter saber o que dizer, deixou-se convencer pela espontaneidade da generosa figura.
- Obrigada! Quero sim, se não for incomodar.
- Magina!...Tá um calô...Se imagina que levei duas horas pra chegar aqui.
- Nossa!
A vontade era sair logo, mas a moça não parava de lavar.
- Pois é.
- Então!? Tá com sede? Tem cerveja aqui na bolsa térmica. Cintra. Tá geladinha. Tá baratinha lá no PRESUNIC.
Claudia, abstêmia convicta, sorriu e agradeceu.
- Não querida, obrigada.
- Ahn...Se quiser, tem sanduíche de mortandela, empadinha, joelho, cocrete de aipim com carne moída e pastel.
- Grata querida, mas não posso.
- Ihhhhh! Tá de dieta, né amiga? Eu percebi....kkkkk
A sensação foi de insulto. O melhor era dar o tal mergulho e cair fora. Mas antes que chegasse na água, ainda foi possível a amiga dizer:
- Olha, é melhor cê comer alguma coisa. Encarar um buzu, duas horas, né brinquedo não!
Imaginem que a amiga, já havia considerado que Claudia também era das usuárias da famosa linha 484.
A água de 26° graus, foi um bálsamo para aquel calor de verão carioca.
Ao sair da água, Claudia já ia pegar suas coisas quando o vendedor de sanduíche natural lhe viu:
- Bom dia D. Cláudia. Quer o de sempre? Cenoura com ricota?
- Geeeeeeentem! Olha só! Tenho uma amiga celebridade. E eu nem sabia! O vendedor até conhece ela.
Claudia ficou mais vermelha do que já estava. Que mico! Ainda bem que não tinha nenhum vizinho por perto.
- Não obrigada, João. Hoje não. Já estou de saída.
A amiga era implacável.
- Aê celebridade! Qual é mesmo sua graça?
- Claudia. (Disse quase sussurrando)
- O meu é Aretuza.
Claudia segurou a gargalhada que queria explodir. Afinal, o nome Aretuza lhe trouxe a lembrança de uma postagem do Youtube, que vale a pena visitar.
O melhor a fazer naquele momento era pegar suas coisas e dar o fora.
- Ehhh....Tô indo agora. Grata mais uma vez.
- Ué? Já vai querida? Tudo bem. Já saquei. Quer pegar o buzu mais vazio, né bem?
- Pois é.
- Domingo que vem tô aqui, de novo.
Aquilo pareceu uma ameaça. Claudia segurou o riso.
- Tchau!
- Tchau, celebridade!
Um comentário:
Nada como voltar das férias e melhor ainda escapando de uma Aretuza...
Feliz retorno meu amigo, já vi q voltou inspirado pelos ares carioca.
JDrinks
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