ão mais de 60 dias em casa. Saídas somente as
essenciais, realmente necessárias, como por exemplo quando desço até a Cantina
do meu Condomínio para atender algum chamado importante, e aproveitando a
oportunidade, alguns minutos de prosa e uns goles de cerveja, por baixo da
máscara, só para não ficar de bico seco.
Em casa já consigo ir do quarto para sala, para a
cozinha, varanda e em todos os cantos de olhos vendados. Já vi algumas séries
na TV, algumas em apenas um ou dois dias. A TV, nesta guerra política, está
muito chata de ver e ouvir. A leitura foi substituída pelo smart, agora um
inseparável objeto de uso pessoal, talvez até mais do que uma escova de dentes.
Com ele vc lê, vê, assiste, escreve, paga, cobra, faz mil e uma coisas e nosso
principal ladrão de tempo, vc nem percebe e morreu mais um dia.
Mas sempre arranjamos outras coisas para fazer, e a
culinária é uma atividade que quem gosta não para nunca. Claro que nem todos vão
para dentro da cozinha, preferem curtir o resultado final, mas em nossa turma, temos
alguns confrades que se arriscam nas panelas.
No meu caso, o churrasco tem sido meu carro chefe de
muitos anos, uma herança de meu pai que era um aficionado, e que fazia questão
até de se vestir com alguns paramentos que trouxe lá dos pampas em suas viagens. Também me aventuro nas panelas e frigideiras
e agora, na quarentena, até doces e bolos já saíram do fogão e do forno, e até
agora acho que não estou fazendo feio.
Mas temos outros admiradores da arte, como a trinca familiar
Mário, Frango e Tamba, responsáveis por feijoadas e outras paneladas, além de
seus tradicionais churrascos já bem conhecidos pela turma, que sempre cobra
novas eventos.
E dentre outros, nosso amigo Bibaca é mais um que tem
aproveitado a quarentena na cozinha. Cada dia um prato diferente, uma salada
colorida, uma carne bem assada e temperada, e que agora está tentando entrar
com cardápios mais light para reduzir seu
consumo de calorias, e melhorar sua cinturinha.
Além de nós amadores, temos em nossas fileiras, dois
profissionais da culinária, dois Claudios. Um é o Qualirinha, que além de criar
e montar seus pratos não deixava de saboreá-los com certa intensidade e no auge
de seus 200 kilos foi obrigado a uma pequena intervenção cirúrgica e hoje curte
seus 120kg de muita alegria e drinks para ajudar a se manter em forma.
O outro é nosso companheiro de blog Luiz Claudio
Kibe, apreciador de uma cozinha bem elaborada, com olhos nos pequenos detalhes
e que quando nos encontramos não podemos
deixar de lembrar de nossa Paella, um marco em nossos encontros, simplesmente
inesquecível e que temos esperança de um dia conseguir repetir.
Kibe se aperfeiçoou na arte culinária, abriu
um restaurante em Brasília, que no momento está fechado por causa da pandemia,
e assina uma página no Face onde comenta sobre cozinha com amigos de toda a
parte do mundo
(
https://www.facebook.com/cozinhandocomamigosg
).
E num final de semana desses, nossa amiga Estelinha
gostou das conversas sobre pratos que tínhamos feito decorrente de nossa
quarentena na cozinha e resolvemos presentear não somente ela, mas nossos amigos
e leitores com três receitas simples e que esperamos que todos apreciem. E não
vamos parar por aí, esperamos que a própria Estela, assim como outros confrades
possam também colaborar e nos repassarem algumas novas dicas e recitas,
inclusive lá da Alemanha da Rose.
Começamos com uma PANQUECA cuja receita aprendi faz
muito tempo com minha mãe, D. Ilka, que neste mês, dia 26, comemora seus 90
anos, desesperada por não poder sair de casa e com suas broncas e costumeiros
palavrões nos dá uma certa alegria pois demonstra que ainda tem muita força para
passar por essa onda e ainda curtir mais um bom tempo entre nós. Parabéns minha
mãe.
Sua receita é simples e tradicional, e a chamo de
TUDO 1.
1 ovo,
1 xícara de leite
1 xícara de farinha de
trigo (usei a de aveia e ficou muito boa, o Kibe sugeriu a de semolinha, vamos
testar)
1 colher de sopa (bem
cheia) de manteiga (margarina ou óleo, sem preconceitos)
1 (boa) pitada de sal
50g de queijo ralado (opcional)
Para fazer, costumo bater o ovo com um pouco do leite
e a manteiga ( se derreter é melhor) e depois coloco no liquidificador com o resto
do leite e adiciono a farinha e o sal.
Bate por um minutinho ( ou um pouco menos ) e o
milagre acontece, a massa está pronta.
O melhor é fritar numa frigideira antiaderente, até
parece que panqueca foi feita para isso.
Eu sempre passo um pouquinho de manteiga para deixar as panquecas mais
coradinhas.
Adoro panquecas, e comecei cedo, ajudando minha mãe,
pois eu conseguia faze-las mais finas, mais fáceis de rechear e ela agradecia muito
a ajuda.
O recheio foi uma carne moída, refogada no bacon,
cebola, alho e tomate, com pitadas de alecrim e o tempero final abafado com uma
pitada de cominho em pó, uma especiaria daquelas que serve para muita coisa:
melhora a digestão, reduz a formação de gases, combate a retenção de líquidos,
reduz cólicas e dores abdominais, fortalece o sistema imunológico e afirmam com
certeza, que é afrodisíaco. E pelo sim e pelo não, é um tempero frequente em
meus pratos.

Para rechear é só ter um pouquinho de calma. Primeiro
frite e reserve-as num prato à parte e em outro (um prato raso de preferência),
ou numa tábua, coloque uma panqueca de cada vez, com cuidado para não partir e
distribua numa das metades, uma boa colher da carne moída, costumo também
colocar um pouco de queijo ralado por cima da carne, mas é uma questão de
gosto. Em seguida enrole e comece a montá-las em uma travessa. Faz assim com
todas as outras, mais ou menos umas 10 unidades. E depois de feitas e
arrumadas, polvilhe com o queijo ralado, está pronto para servir.
Se demorar um pouco e esfriar, coloque a
traversa no forno quente (180º) por alguns minutos (10 min) e sirva em seguida.
Você pode variar um pouco a receita e preparar a
famosa PANCAKE AMERICANA, uma panquequa mais fofinha, geralmente com recheio de
geleias. O americano adora isso e come uma encima da outra com o recheio
derramado por cima de todas.
Basta acrescentar 3 colheres (de sopa) de açúcar e
uma colher (também de sopa) de fermento químico. O processo é o mesmo só que
elas devem ser fritas e tamanhos menores e mais altas (fofas). Também é muito
bom e vale a pena experimentar.
A receita seguinte é de nosso Chef Kibe. Uma recita
típica do Brasil, mas com a formalidade e aquele toque refinado de quem entende
do assunto.
Creme de
abóbora com carne-seca, calabresa e requeijão cremoso.
Porção pra 6
pessoas
½ abóbora kabocha
1 kg de carne-seca (pode ser charque ou carne de sol)
1 linguiça calabresa
3 colheres de requeijão cremoso
1 cebola grande
3 dentes de alho fatiados
2 tomates maduros picados sem sementes
1 colher de sopa de cebolinha
½ xícara de polpa de tomate
Pimenta do reino a gosto
Sal a gosto
Fazendo.

Corte a carne-seca em cubos e dessalgue-a de um dia
pro outro, trocando a água várias vezes.
Coloque a carne-seca com água até cobri-la em uma
panela de pressão e deixe cozinhando em fogo baixo, por aproximadamente 30
minutos, depois de ferver.
Escorra a água e reserve. Em uma frigideira
pré-aquecida, doure a cebola e o alho; acrescente a carne-seca e a calabresa
fazendo um bom refogado. Junte o tomate em cubos, a polpa de tomate e os demais
ingredientes (sal e pimenta-do-reino).
Descasque a abóbora e corte-a em cubos e cozinhe até
ficar bem macia, desmanchando. Em seguida, escorra a água e misture a abóbora à
carne-seca. Acrescente o requeijão, mexendo até formar um creme homogêneo.
Corrija o sal, se necessário.
Sirva acompanhado de arroz e uma boa farofinha com
banana-da-terra.
Bom apetite!
E fechamos essa edição com as dicas de nosso sommelier
Marcos Bibaca, que em breve vai nos presentear com um texto comentando sobre os
vinhos de nossa terra.
Está receita eu aprendi com um chef de cozinha e
proprietário do restaurante Mediterrâneo, quando eu trabalhava na Heublein. Ele
mergulhava e trazia uns peixes frescos pra fazer no almoço.
Um dia ele me convidou pra almoçar com ele, se
chamava Angelo, italiano com uma cultura gastronômica toda do mediterrâneo, por
isso o nome de restaurante homenageando sua terra.

Eu não conhecia nada de salada, a não conhecia outra
a não ser alface, tomate e agrião. Essa ele preparou na minha frente, usou
alface crespa, americana, rúcula e almeirão, depois ele cortou os tomates sem
semente, cebolas partidas ao meio, bem fininhas. Acrescentou
azeitonas verdes e pretas sem caroços,
colocou salmão triturado (desfiado), rasgou as folhas com as mãos, jogou
tudo numa vasilha, preparou um
molho a
base de azeite, shoyu, vinagre, mostarda, meio limão e meia laranja seleta espremidos,
e misturou tudo na vasilha com 2 espátulas grandes. Arrumou tudo num prato e
decorou com
ovos cozidos.
Ficou ótimo nunca tinha comido uma salada tão
intensa, isso acompanhado por belo vinho
branco resling italiano bem frutado. Depois saboreamos o peixe que ele fez
no forno. Um pargo recheado com farofa
de alcaparras na manteiga. Deixa eu ir comer que me deu até fome. Espero que
tenha atendido as perspectivas.
Claro que atendeu, Bibaca, e pelo horário que
fechamos o texto, também estou indo fazer uma boquinha. Voltamos em breve.