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ra sexta-feira, dia 6 do mês de março de 2020, e foi o
último dia que abracei meus netos, e foi também quando terminei de assistir ao último
capítulo da série “Os Templários”, que conta a saga dos Soldados de Cristo e a
origem dos fatos que transformaram a sexta-feira 13 em um dia de mau agouro, no
Dia do Azar, e não por acaso, na semana seguinte teríamos mais uma dessas sextas-feiras
13, e que certamente nos marcará para sempre, pois foi praticamente neste dia a
confirmação pelo governo da instalação da pandemia do coronavírus, a COVID-19,
que desde então até o dia de hoje, 06 de abril, já fez milhares de vítimas por
esse mundo afora, inclusive em nossas terras tupiniquins.
E ela chegou firme, forte, deixando um rastro de mortes
praticamente em todos os continentes, e o pior, o medo se estabeleceu em nossas
casas e em nossas caras. E na sexta-feira, 13, também veio a reafirmação da
necessidade do isolamento social, e com um direcionamento especial para os
idosos, os mais sensíveis ao novo vírus.
Passado este final de semana, o primeiro com a experiência
deste novo comportamento, voluntário, e indicado pela saúde pública como a
melhor forma de combate e prevenção para a pandemia da COVID-19, já
implementada em outras partes do mundo e que nosso governo tomou a dianteira
para tentar evitar um mal maior.
Confesso que no início não foi tão ruim assim. Fomos ao
mercado, na farmácia, fomos à pé e também de carro. Tudo muito rápido e como se
fosse um final de semana chuvoso, apesar do sol de um verão que passou sem
muito alarde.
A ficha ainda não tinha caído, sabíamos que o dia seguinte
era uma segunda-feira, dia 16 de março, ainda com movimento nas ruas, apesar da
orientação para o isolamento social, duas palavras que passaram a estar em nossas
bocas, em todos os lugares, nas reportagens e nas chamadas de todos os
noticiários.
Para um grupo dos idosos que não trabalhavam, o novo comportamento
talvez não fosse tão estranho para eles, já que são aqueles que conseguem morar
sozinhos ou moram com filhos, netos ou mesmo um amigo, mas recebem pouca
atenção e com raras ou nenhuma visita, ou seja, já se encontram num isolamento
social, na maioria das vezes, não voluntário.
Outro grupo de idosos são mais privilegiados, são os que
mantém contatos permanentes com seus entes queridos, saem, passeiam e tomam
seus drinks com amigos. Para esses o novo comportamento é um choque, talvez até
maior que para as gerações mais novas, principalmente para os que se
comportam verdadeiramente como vovôs e
vovós.
E agora, 30 dias depois, o isolamento no Brasil é uma
realidade, com certa eficiência, mas não é uma unanimidade, e a todo momento
existem notícias de confronto de idéias, e graças ao avanço da tecnologia, as
redes sociais extrapolam fronteiras, criam grupos para conversas e trocas de
mensagens, de vídeos, e muita discussão, principalmente sobre a COVID-19 e a
politicagem no Brasil e no exterior, sem falar nos outros diversos assuntos até
difíceis de enumerar. Não ficamos tão sós e não há limite quando a Internet
está do nosso lado.
E as consequências? Positivas e negativas. Convivência não é
uma coisa fácil. Filhos e pais que antes passavam o dia fora, davam suas
saidinhas, agora estão juntos pelas 24 horas, e reclamam entre si, com as
crianças e com seus idosos, pelos mais variados motivos, principalmente para
convencer os vovôs e vovós que não podem abraçar nem beijar seus netinhos, ou
mesmo visita-los em outras residências.
Acho que uma coisa bem positiva é exatamente abrir nossos
olhos para aproveitar ao máximo o tempo em casa, com novas rotinas,
passatempos, leitura e até a busca de soluções para problemas diversos, um novo
cotidiano que pode muito bem gerar frutos saudáveis quando esta onda passar.
As negativas também são muitas, envolvendo discussões sobre
assuntos que antes passavam desapercebidos, alguns banais, outros complexos,
sonolência excessiva pela falta de ocupação, e muitas outras que é preferível
nem pensar.
E no meio disso tudo a ficha caiu. Olhamos pela janela e
sentimos o silêncio da cidade. Parece
que todos os dias são iguais, onde bares, lojas, shopping, igrejas, e
muito mais, encontram-se fechados e as ruas com pouca movimentação, quase uma cidade-fantasma,
se não fossem algumas pessoas que ainda trabalham ou saem para pequenas compras
nos locais que ainda funcionam. Até quando ficaremos assim?
E
hoje dei uma parada no ar. Acho que a tal de ansiedade, que tanto ocupa o tempo
dos psicólogos, deu um pequeno ar de sua graça. Não sou o especialista para traçar
meu diagnóstico, mas acho que sou capaz de descrever alguns sintomas, e que
certamente devem fazer parte da relação que compõe este tipo de emoção, que
para mim, antes de saber que poderia se transformar em uma doença, era apenas uma
emoção normal sem maiores preocupações ou medos com suas consequências. Que dia é hoje? Me perguntei pela manhã. E eu não tinha certeza, achava que era sábado, ou domingo, ou mesmo sexta-feira. Confesso que por uns instantes me perdi e parei para pensar no que tinha feito ontem, onde tinha ido. Ido? Só se foi do quarto para a sala, ou para a cozinha, onde passo um bom tempo. E comecei a tentar lembrar o que passou na TV. E o que me lembrei é que estava vendo mais uma série, e aos poucos fui chegando. Sábado fiquei a tarde inteira e boa parte da noite assistindo La Casa de Papel, uma série que realmente nos rende. Então acho que deveria ser domingo, mas ainda não tinha certeza e não queria olhar no telefone, queria ter certeza, mas o pior é que não tinha e aí acordei de verdade, já tinha lido o jornal e me lembrei do The Voice Kids na TV. Caramba, hoje é segunda-feira, dia... que dia do mês? E começou tudo de novo. Mas detsa vez não resisti e olhei na folhinha, dia 6 de abril de 2020.
E meu primeiro pensamento foi para minha mãe. Ela mora com meu filho e sua família, vai fazer 90 anos e briga com todos porque deseja sair, dar uma volta, fazer alguma coisa pois se acha presa, confinada, isolada, de forma involuntária, se acha capaz de sair, de ir para qualquer lugar, embora a realidade já não seja esta. E a primeira coisa que ela me pergunta quando vou visita-la é, que dia é hoje? E eu reclamava, mostrava o calendário e até achava que era brincadeira, e hoje eu sei que não era.
Terminei de ver aquela série, dei uma fugida até o Correio, aproveitei para entrar no mercado, comprei pão e cerveja para reforçar o abastecimento e pronto, mandei algumas mensagens, vi o facebook e liguei a TV para a nova série, O Último Dragão, e sentei para terminar o texto e olhei para o calendário do computador e achei que estava errado, caramba, que dia é hoje? 8 de abril, e me lembrei que minha ida ao Correio tinha sido ontem, dia 7, e hoje já era a noite do dia seguinte. E, acho que estou precisando de um drink.
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