Claro que consegui algumas fotos do procedimento, mas sei que nem todos
gostariam de aprecia-las tanto quanto eu, portanto selecionei apenas algumas, as mais simples, para que possam
curtir o antes, durante e depois, e quem sabe, sirvam também de aviso para que não se descuidem, pois o tempo passa e o balde nos
espera.
Mas minha história de sofrimento dentário tem início há muito tempo, desde criança, e este texto pode até ser útil para chamar a atenção de nossos jovens, para que não deixem de manter os cuidados necessários com os dentes, um apelo constante de nossos amigos e dentistas, Dellaney e Sandra, ao longo de nossas vidas, principalmente que depois de formados, eu e minha família, e tantos outros amigos, viramos seus pacientes e levamos muitos puxões de orelhas.
Não sei dizer como foram meus dentes de leite, mas tão logo os definitivos foram nascendo, meus problemas iniciaram. Muito novo, na faixa dos 15 anos, talvez nem com toda a dentição permanente, tive que arrancar um dente que começou com uma pancadinha e uma dorzinha, daquela que a gente acha que vai passar e só reclama quando bate um gelado, e que naturalmente escondemos dos pais até que um dia não tem mais como não ir ao dentista, pois só de pensar naquele motorzinho, já era razão para tentar esquecer as bochechas inchadas. E o pior veio junto com a dor de dente e o inchaço, uma inflamação daquelas que o dentista é cruel no diagnóstico: balde ( a grande alegria de nosso querido Della ).Foi minha primeira extração, fora de tempo, e um dia que a gente realmente não tem como esquecer. Fui ao dentista acompanhado por um
tio, pois minha mãe já sabia que seria uma situação muito difícil, e assim foi.
A anestesia não pegava direito, e o Dr. deixou bem claro que teria que extrair
aquele dente, pois era muito arriscado continuar daquele jeito. Ele pediu para
meu tio ajudar a me segurar na cadeira, mas no desespero que eu estava, ele sozinho
não conseguia e chamou mais duas pessoas que estavam na sala de espera para ajuda-lo.
Me lembro bem que numa das minhas tentativas de fuga, consegui derrubar um no
chão, mas depois de muito choro, gritos e do próprio desgaste pela luta,
conseguiram me segurar e o ágil Doutor, de um jeito que nem sei como, conseguiu
tirar o dente, que já deveria estar meio mole. Foi uma experiência que marcou
muito e talvez tenha servido para eu não ter sido muito “frequente” nos Consultórios
Dentários.
Minha segunda experiência, e que tenho também uma forte lembrança, foi
poucos anos depois, quando numa consulta, ainda sob os cuidados do Dr. Dilson,
MAIS uma vez ele veio com aquele discurso de teríamos de fazer uma extração.
Tenho certeza que notei um risinho, o mesmo que Dellaney deixava escapar quando
me mostrava o balde em nossas últimas e derradeiras consultas.
Eu tinha um dente no “céu da boca”, que já tinha sido notado
pelo Dr. em consulta anterior, mas que não doía, e eu até brincava com ele. No
entanto, após seu diagnóstico, ele me disse que não poderia continuar daquele jeito
e que iria esperar um pouco mais para definir o tratamento. Após alguns Raios
X, o Professor afirmou que mesmo de aparência inofensiva, sem dor, era uma
anomalia e que poderia trazer alguns problemas na saúde bucal. Disse que era um
dente extranumérico e que estava pressionado pela falta de espaço na minha
arcada dentária, e a solução era o famigerado balde e pediu autorização para
trazer uns alunos para verem a técnica, pois era um tratamento especifico e um
dos problemas estaria relacionado com o palato que poderia até ceder, o que me deixou
realmente com aquelas pulguinhas atrás das orelhas. Lembro que foi uma semana muito
difícil para mim, e que fui escondido em seu Consultório para perguntar se não
tinha um outro “jeito” para resolver o problema, e ele estava num daqueles dias
alegres, me abraçou e disse para voltar no dia da consulta marcada. Deu uma
risada e trancou a porta.
Não tive como escapar, e no dia e hora marcados, lá estava eu, um pouco mais calejado e com a promessa do Doutor que não iria doer, era só umas duas
agulhadas e nada mais (isso não mudou, eles continuam a mentir com uma
facilidade que a gente quase acredita). Com ele estavam dois alunos e depois
das apresentações, ele me colocou na cadeira e explicou o que faria. Deu uma
verdadeira aula, inclusive para mim, e acredito q me ajudou a relaxar, mas o
tal do palato caído não saia da minha cabeça.
Ele iniciou colocando uns algodões na boca e dando uma
primeira anestesia bem superficial, que doeu bem menos que eu esperava. Depois
comentou que era um primeiro toque para minimizar o efeito das agulhadas
seguintes, que mesmo assim doeram, afinal não são todos os dias que arrancamos
um dente no céu da boca. Cheguei a lembrar daquela minha batalha alguns anos
atrás, mas ele mesmo chamou esta atenção, dizendo para os alunos que eu tinha
lhe dado muito trabalho mas com uma técnica que não sei qual foi, ele conseguiu
grampear e tirar um dente quebrado e infeccionado, e que eu tinha dado sorte de
não ter pego uma infecção maior.
A anestesia foi um sucesso e eu consegui relaxar, e também
tenho certeza que após esse dia passei a me controlar bem melhor nos Consultórios.
Um trauma bom superou um trauma ruim. E tudo ia muito bem, o Professor terminou
sua aula e os alunos já se preparavam para ir embora quando segurei a mão de um
deles e apontei para minha boca. Ele não entendeu direito, pois tudo tinha dado certo, mas insisti e ele chamou o Dr. Dilson, que olhou, pegou uma pinça e tirou
um chumaço de algodão, que eu achava que era o “palato que tinha caído”. Outro
dia inesquecível.
Mas não parou aí. Nos meus 17 anos, e esta data eu lembro bem e vocês logo
vão saber o porquê e algumas consequências. De um sangramento nas gengivas que não cuidei bem,
o fluxo aumentou e também apareceu nos dentes da frente uma pulgação que me preocupou
mais quando levei uma cotovelada num treinamento (Karate) e um dente da frente,
central ficou abalado, e eu quietinho, esperando o dente ficar melhor, no
entanto não tem jeito, quando a gente se machuca sempre nos machucamos
novamente no mesmo local, e quando achava que estava melhor, mesmo com o
sangramento incomodando, resolvi comer uma maçã do amor, que de amor não tinha
nada, e quebrei o dente da pancada, de cima abaixo. E lá fui eu para o Professor Dilson, que naquela
época já bebia um pouco mais e nem atendia como antes. Mas eu tinha que tratar e
veio novamente um diagnóstico que me apavorou. Disse ele que além do dente com
a raiz fraturada, estava também com uma tal de ”piorreia”, e teria que tirar os
dois dentes da frente, e talvez outros. A solução, mais uma vez, foi o sinistro
balde.
E dessa vez me abalou mesmo. Hoje eu sei que passei por um período de
depressão. Não saia de casa, e atormentado porque o Professor tinha me dito que precisava de um tratamento urgente nas gengivas pois a piorreia poderia me
fazer perder todos os dentes. Uma ameaça que me deixou para baixo. Me afastei
até da namorada, e sem explicar muito acabei por terminar com o namoro com a Sonia, e ela não
entendeu nada, e acho que até hoje, quase 40 anos de casado, ela ainda não
entende bem o que houve, quem sabe se a leitura deste texto não poderá ajudar? Isto é se ela ler, já que como tantos de nossos amigos, infelizmente não acompanham nosso blog.
Fui para uma Clínica, na Tijuca, fiz alguns exames e tive
uma boa notícia, que eu tinha chegado a tempo, a gengivite era forte mas a
piorreia não tinha sido diagnosticada e o chato é que talvez pudesse ter
salvado o dente que não estava quebrado. Iniciei o tratamento imediato com uma
cirurgia num quadrante superior, e só depois da cicatrização deste e dos
outros, que ele, Dr. Ari, recomendava a colocação de um root ortodôntico,
aparelho muito utilizado na época, e isso iria demorar pelo menos uns dois
meses.
Liguei para meu pai, que trabalhava em São Paulo e expliquei
a situação. Ele entrou em contato com o setor médico da RFFSA e lá fui eu para
Sampa (algumas vezes com o Anterão a tira-colo) ouvir outra opinião. Cheguei
com o bigodão que tampava o buraco dos dentes e o dentista local tinha outra
visão, de que poderia colocar o aparelho e tratar as gengivas com outra
técnica, sem a cirurgia que tinha sido feito, e em uma semana já estava com os
dentes da frente, e sem o bigodão, e voltando a cada 15 dias para terminar o
tratamento, com a vantagem de aproveitar algumas festas no Nacional, clube
ferroviário que meu pai era Diretor Social e uns drinks noturnos, quando meu
pai me apresentou Benito de Paula e Amália Rodrigues, uma famosa cantora portuguesa de fado, além de
fazer uma amizade bem colorida com uma assistente da clínica. Foi um bom período e o melhor, sem balde.
Nessa época, me alistei na Aeronáutica, para fazer prova
para a Academia, e não passei. Fui para a Marinha, fiz a minha prova, que foi
bem fácil, e também a do Santa, mas na hora de marcar meus cartões sobrou questão e resposta e me
enrolei, não dando tempo de revisar, resultado, nem fui ver o resultado, e no
ano seguinte, já na Faculdade, tinha que me apresentar para o serviço militar, e para não viajar e atrapalhar os estudos, resolvi
ir para o Exército, mas na apresentação me colocaram naquela sala cheio de
moleques e os veteranos sacaneando todo mundo. Vi que eu seria peão e também atrapalharia a Faculdade, então resolvi a parada na avaliação médica. Estava
tudo bem, físico legal, teste de força com parabéns do instrutor e veio a
inspeção dos dentes, eu tinha tirado o aparelho e forçado a gengiva com a
escova de dente, que deixou marcado um pequeno sangramento. O sargentão veio, mandou abrir a boca e foi
logo perguntando sobre a falta dos dentes e a situação das gengivas, minha resposta foi direta, “tenho piorreia e estou tentando
tratar”, levei uma cruz vermelha no peito e reprovado no exame. Voltei para
casa e agradeço a lembrança do Dr Dilson e do balde.
E após esses dias inesquecíveis, foram quase 40 anos de
eventuais baldes, que depois da pandemia, quando parei o tratamento das gengivas, que tinha
iniciado pouco antes, veio a maior das
consequências, cada visita ao Dr. Dellaney, era um dente no balde, sempre
acompanhado de um sorrisinho e sua frase mais habitual, “eu te avisei”, e avisou mesmo.
E por tudo isso, por esses dias inesquecíveis, hoje reconheço
que não dei a atenção necessária aos meus dentes e por isso recomendo sempre para os filhos e netos, e
também para os amigos em geral, que não se descuidem dos dentes e das gengivas, tal como meus
amigos, Dellaney e Sandrinha, sempre alertaram, a mim e a vários amigos de
nosso grupo.
9 comentários:
Tratar dos dentes deveria ser prioridade pública ....infelizmente não é assim e com material importado e sem subsídios , poucos de nós tiveram a oportunidade de tratar dos dentes como deveríamos. Sempre foi muito caro o tratamento. Depois , vem os filhos e vc acaba priorizando eles e esquece de si. Lógico que escovamos os dentes e tentamos a melhor higiene possível....mas não era suficiente .....muito açúcar na alimentação e noites de farra .....hi, esqueci de escovar os dentes ...aí já era. A saúde começa pela boca e infelizmente o poder público, de todas as épocas, não entende assim. Hoje , para muitos, a solução é esse novo procedimento, o protocolo, mas sabem o custo? Pois é....tudo ainda é distante da população. Meu amigo, que bom que você conseguiu...
Está sendo muito difícil, mas eu não tinha opções e uma oportunidade q não podia perder.
Força Mano, não é agradável mas Vc fêz o que tinha que fazer.Só não pode comer Milho, por enquanto.TFA.:
E nem maçã do amor. CAM
Ze não tá com dor?
Não, até agora td ok, sem dores, e seguindo a recomendação de repouso direto e bastante sorvete e gelo ( e gelada 0.0).
Robson,isto está muito bem em nossa realidade.
Sem dúvida, uma saga...
Mas vai terminar em grande estilo, com tudo no lugar, e com um bom corte de carne pra comemorar.
Grande Abraço e boa sorte ao amigo.
Meu amigo Lessa
É mais que uma saga, é o resultado de um certo desleixo meu que poderia evitado, e tento passar isso para meus filhos, netos, e agora para os amigos neste texto.
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