terça-feira, 31 de janeiro de 2012

E o Embalo continua...



F
oi com muito prazer que tomamos conhecimento do blog http://oglobo.globo.com/blogs/pelada/?periodo&palavra=embalo#.Tx4I8k-SZik.facebook , desenvolvido pelo experiente jornalista Sérgio Pugliese.  Apaixonado por futebol e peladas, bem ao nosso estilo, chefiou redacões do JB, O Dia e O Globo.  Sua crônica tem uma narrativa fácil de ler  e seu blog é bem fiel à sua descrição:  “Histórias verdadeiras sobre a relação de amor entre o homem e a bola”.
E dentre suas geniais pesquisas estão algumas que nos remete ao nosso sempre vivo passado. Sérgio é apresentado ao Grêmio Recreativo Esportivo Embalo do Catete, ou simplesmente o nosso velho e conhecido Embalo do Catete.
E mais interessante foi conhecer, depois de todo esse tempo, um pouco mais da história desse time, ou melhor, desse Grêmio, que nunca chegamos a enfrentar em nossos campeonatos, pois éramos de uma geração anterior, embora depois de algum tempo tenha criado sua equipe juvenil, mas já numa fase em que aos poucos nos afastávamos daquelas quadras.
Nos anos de 1967 até meados de 70, os torneios juvenis e locais eram dominados pelas equipes do Órdem e Progresso, sob o excêntrico comando do famoso e saudoso Capitão, de nosso querido Sede Velha, criado em homenagem à antiga, e já derrubada, sede náutica do Flamengo, e o Capri, organizado time de Santa Tereza, onde jogava um beque central, que na ausência do goleiro titular, Ôvo, numa partida contra o Sede Velha, assumiu a meta e nunca mais a largou. O beque, que virou goleiro, era Paulo Sérgio, ou melhor, nosso amigo Paulinho, campeão pelo Fluminense em 1973 e 75, e que também passou pelo CSA, Volta Redonda, Americano, Botafogo, Goiás, Vasco e América. Alcançou o auge no Botafogo, quando foi convocado para a Seleção Brasileira e para a Copa do Mundo de 1982. Jogou duas partidas pela Seleção e não tomou nenhum gol.
Paulinho, não fez sucesso apenas nos gramados. Depois de passar pelo Goiás, América-RJ e Vasco, pendurou as chuteiras em 1988 e junto com Zico,  Júnior e um time de outros craques, deram início às vitoriosas campanhas de nosso futebol de areia. Foram os precursores da Seleção Brasileira de Futebol de Areia, que até hoje encanta o mundo e os olhos de quem gosta da magia das verdadeiras peladas de futebol, em qualquer tipo de arena.
Vale também a pena recordar um outro companheiro frequente de nossas peladas. Responsável por lotar as quentes arquibancadas do Aterro, Zezinho era um moleque baixinho, endiabrado, legítimo ponta direita, quase impossível de ser parado.  Para nossa sorte, seu time, o Canarinhos, não era tão imbatível como seu jovem craque, ainda mais novo do que nós. Nossos jogos eram a certeza de casa cheia e não importava o resultado, o que interessava era o show do Zezinho.
Em 1970, com 15 anos, foi campeão pelo Capri no Torneio do Jornal dos Sports, o mais famoso do Aterro e que deu a grande fama ao Embalo, bi-campeão do torneio de adultos.
Em 71,  foi para o Fluminense onde já como Geraldinho, foi campeão pelos Juniores em 1975.  Profissionalizado, foi emprestado ao Vitória-BA e não deu outra, novamente campeão.  Retornou ao Fluminense no mesmo ano, 1976, e fez parte da Máquina Tricolor, campeã de 1976.  Vendido para o Fortaleza, logo foi convocado para a Seleção Cearense de 1977. Passou ainda pelo Americano e Internacional de Limiera antes de se transferir, em 1980, para o México, onde defendeu o Unión de Curtidores.  Encerrou a carreira na Cabofriense e hoje, segundo informações de amigos, empresta sua categoria para comandar uma escolinha de futebol em Cabo Frio (informações do blog Terceiro Tempo).
Com a saída do Sede Velha, que fez suas últimas partidas no início de 1970, o Embalo tomou força e passou a disputar com o Órdem e Progresso, campeão de 70, a liderança dos torneios no Aterro. 
Na sua crônica, Sérgio afirma que:
“Em 71, no juvenil, o triunfo foi sobre o Órdem e Progresso, do técnico Capitão (que Deus o tenha!), tradicional rival.  No tempo normal, 1x1, Luisinho de falta e depois na série de tres penaltis, todos convertidos por Luisinho.  O time? Chiquinho, Miúdo, Betinho, Luisinho, Reinaldo, Zé, Zezinho, Marinho e Jorge Luis.  O técnico, Seu Rui.”
No entanto, graças às lembranças de Tuta, fazemos uma pequena correção, ou seja, o campeão juvenil de 1971 foi o Capri, onde ele, que foi também cria de nosso Sede Velha, atuou com aquela perfeição que o levou a ser considerado por muitos como um dos melhores beques de nossa geração.
Alguns de nossos jogadores passaram pelo Órdem, como o próprio Alexandre Porquinho, que começou no Sede Velha pelas mãos de nosso treinador, o Braga, mas que não conseguiu evitar sua saída para o tradicional adversário.  E junto com Wildes e Betinho no meio de campo, e Bombril e Ratoeira, falecido campeão de Judô, na defesa, formavam uma equipe de primeiríssima qualidade  mas que acabou cedendo espaço para o novo campeão.
E a partir dos anos 70. o Embalo cresceu. Campeão em 76, contra o não menos famoso no Aterro, o Bola Preta, e depois em 85, na grande decisão contra o GEFUVAR, um time bom de nome horrível, considerado um intruso em nossa área.
Daquele time de 85 me lembro bem do Bicudo, garoto novo e bom de bola, e de meu amigo Russo, este um cracão, com origem no Sede Velha, que tinha tudo para seguir a carreira mas que não conseguiu se acertar.
Outro não menos famoso naquele timaço era Jorge Luiz Cachórros. Fominha de bola mas reconhecido como um dos principais jogadores daquele elenco.  Jorge, hoje um vovô coruja, é participante ativo de nossa confraria e sempre presente em nossos Encontros.
Foram realmente “tempos mágicos”, e obrigado a você, Sérgio, por nos permitir lembrar um pouco mais de nossos magos amigos.  Até a próxima pelada.













domingo, 22 de janeiro de 2012

Foi um Rio que passou em nossas Vidas – II


    Paulinho da Viola. 
   Uma vez apresentado, é importante dizer como Paulinho da Viola entrou em nossas vidas, trazendo um repertório que seria tal qual uma trilha sonora de um filme rodado todos os finais de semana. Mas como assim? Talvez perguntasse o leitor menos avisado. O que posso dizer é que muitas das composições de Paulinho eram incessantemente cantadas por nós, nos ensaios da Portela, lá na sede náutica do Botafogo, no Mourisco, todos os sábados.
    Independente do programa que fizéssemos naquela noite, sempre havia tempo para que passássemos por lá e aproveitássemos um pouco que fosse, da magia daquela bateria. Para curtir uma desilusão amorosa, para buscar um novo amor (mesmo que passageiro), para curtir o samba acompanhado de umas cervejas bem geladas; enfim, motivos é que não faltaram para estarmos presentes.

Guardei minha viola
(Paulinho da Viola)

Minha viola
Via pro fundo do baú
Não haverá mais ilusão
Quero esquecer ela não deixa
Alguém que só me fez ingratidão

No carnaval
Quero afastar
As mágoas que meu samba não desfaz
Pra facilitar o meu desejo
Guardei meu violão
Não toco mais

    Quando não tínhamos programa com as namoradas, a programação iniciava-se por volta das 8:00h da noite, lá nas “Correas”, no boteco do Manolo – tanto na esquina com a Bento Lisboa quanto na esquina com a Praia do do Flamengo. “Manuelávamos”, pois; entre “traçados” (um misto de Cinzano com cachaça) e cremes de ovos com vinho quinado, saboreávamos brahmas e antárticas estupidamente geladas. Às vezes uma garrafa de steinhager surgia como uma opção mais ousada, acompanhada por tulipas de chopp para esfriar a garganta. Bom lembrar que o Cabanas, ao lado do prédio da UNE, também tinha seus dias de glória.
    Os bares que fazíamos nossas paradas que antecediam nosso ingresso nos ensaios, nem sempre eram...digamos assim...não muito recomendados para irmãs, namoradas, mães ou outras pessoas de fino trato. Não que fosse um ambiente promíscuo, mas eram os conhecidos “pés-sujo”, com suas vitrines sortidas de petiscos no mínimo insólitos, tais como: ovos cozidos cor-de-rosa, cabeça de peixe frito, croquetes de salsichas, sanduíche de bife a milanesa com alface murcha (pelo tempo que estava ali), batatinhas e cebolinhas ao vinagrete, almôndegas, tremoços, etc, etc...um festival gastronômico universal e literalmente bombástico.

Dança da solidão
(Paulinho da Viola)

Solidão é lava
Que cobre tudo
Amargura em minha boca
Sorri seus dentes de chumbo
Solidão palavra
Cavada no coração
Resignado e mudo
No compasso da desilusão

Desilusão, desilusão
Danço eu dança você
Na dança da solidão (...)


   Entrávamos no Botafogo, muitas vezes, com nossas carteirinhas de sócios, maquiadas por mãos hábeis de alguns – que me nego a citar nomes, com receio que o “crime” ainda não tenha sido proscrito - que “atualizavam” as mensalidades impressas nos recibos, acoplados no verso das mesmas. Outros mais ousados insistiam em pular o muro, e o faziam com tal destreza que nem sujavam suas pantalonas. Claro, que muitas vezes, os seguranças não compreendiam a paixão de nossos amigos pelo samba, e teimavam em retirá-los à base de porrada. Verdadeiramente, a emoção consistia em pular para dentro ou pular para fora, de preferência sem apanhar na ida ou na vinda.
   A bateria explodia em um ritmo frenético, os surdos faziam a marcação e atingiam nossos corações em cheio com seus “tuntuns”. Lembro-me de uma mulata que fazia umas contrações com a bunda, em um movimento que parecia soluçar ou debochar dos marmanjos que ficavam na parte de baixo do palco, imaginando indecências com aquela deusa de ébano.
   A bateria atacava com tudo, o coração repicava junto com o repiniques e as paredes de vidro do Mourisco pareciam que iriam explodir com tanto barulho. Peraí! Barulho não!!! Explosão de samba da mais alta “catigoria”, como dizia o Neguinho 171, que nem sei se ainda está vivo.

Argumento
(Paulinho da Viola)

Tá legal
Eu aceito o argumento
Mas não me altere o samba tanto assim
Olha que a rapaziada está sentindo a falta
De um cavaco, de um pandeiro
Ou de um tamborim

Sem preconceito
Ou mania de passado
Sem querer ficar do lado
De quem não quer navegar
Faça como um velho marinheiro
Que durante o nevoeiro
Leva o barco devagar



  Sonhos de várias noites de verão, que antecediam o momento máximo daqueles ensaios – o desfile da Portela.
   Não sei se todos nós éramos portelenses, mas sei que a maioria de nós (se não a totalidade) jamais colocou os pés na Marquês de Sapucaí ou na Presidente Vargas – onde aconteciam os desfiles, anteriormente. Mas isto não importa, a paixão pela Portela fluía espontaneamente, independente de torcer ou não por aquela agremiação de samba. Grêmio Recreativo Escola de Samba da Portela – Uma família a serviço do samba! Assim o locutor anunciava ao microfone. Era o intervalo entre um samba e outro. O samba enredo do ano sabíamos de cor e salteado. Também, participávamos de todos os ensaios.

Samba Enredo 1972 - Ilu Ayê
Ilu Ayê, Ilu Ayê Odara
Negro dançava na Nação Nagô
Depois chorou lamento de senzala
Tão longe estava de sua Ilu Ayê
Tempo passou ôô
E no terreirão da Casa Grande
Negro diz tudo que pode dizer
É samba, é batuque, é reza
É dança, é ladainha
Negro joga capoeira
E faz louvação à rainha (...)

  Pasárgada, o amigo do rei; O mundo melhor de Pixinguinha (Pizindin); Macunaíma; foram hinos que entoamos na década de 70; e recentemente ouvi-os novamente em um Encontro da Correa, em 2009; quando fizemos uma Paella, na no prédio do Zé Drinks.
  Ah, Paulinho! Você nem imagina o que nossa geração curtiu suas músicas. Quantas e quantas vezes, nossos Roadstar, tocaram suas músicas. Marcaram época, foram trilhas sonoras de nossos momentos de vida, fossem de alegria, paixão ou desilusão. Por isso, podemos dizer que sua obra foi um rio que passou em minha vida e tantos outros amigos que agora leem esta crônica e certamente suas memórias fizeram uma viagem ao passado.

Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida
(Paulinho da Viola)

Se um dia
Meu coração for consultado
Para saber se andou errado
Será difícil negar
Meu coração
Tem mania de amor
Amor não é fácil de achar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou
Só um amor pode apagar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou
Só um amor pode apagar...
Porém! Ai, porém!
Há um caso diferente
Que marcou num breve tempo
Meu coração para sempre
Era dia de Carnaval
Carregava uma tristeza
Não pensava em novo amor
Quando alguém
Que não me lembro, anunciou
Portela, Portela
O samba trazendo alvorada
Meu coração conquistou...
Ah! Minha Portela!
Quando vi você passar
Senti meu coração apressado
Todo o meu corpo tomado
Minha alegria voltar
Não posso definir
Aquele azul
Não era do céu
Nem era do mar
Foi um rio
Que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Foi um rio
Que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Foi um rio
Que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar!

Clique no link abaixo e volte ao passado...

http://www.youtube.com/watch?v=N-6SMDK-jCo