quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Férias no Piauí




Um confrade nosso de longas datas, cansado da agitação da cidade, aposentou e combinou com a família que passaria um ano morando sozinho no interior do Piauí.


Lá, o carteiro passa de vez em quando. Jornal, nem pensar, e mercearia leva duas horas para ir e outras duas para voltar.  Uma paz total, tranquilidade, rede para descansar, e pescaria num riacho perto da roça. Tudo que ele queria para recarregar suas pilhas, como ele mesmo dizia.

Passados seis meses, véspera do Natal, batem na sua porta, que se abre sozinha, pois nem chave tinha.

É um bicho da terra. Um cara barbudo, alto, muito forte, fora dos padrões da região, que mal encarado, com um facão na cintura e a marca de um trabuco sob a camisa, começa a prosa:

- Sou Zezão, seu vizinho, umas 10 léguas daqui. Sexta-feira tem uma festinha de Natal lá em casa. Espero ocê às cinco.

Nosso amigo se empolga:
- Com prazer meu amigo... depois desse tempo por aqui, sozinho, nada melhor que uma reuniãozinha. Vou sim, conte comigo e obrigado pelo convite.

Zezão, com a cara fechada,complementa:
- E vai rolar bebida.

A resposta é imediata:
- Sem problema. Eu também gosto.

Zezão se vira para partir, mas dá uma paradinha e diz:
- Mas aviso que pode ter briga.

Nosso confrade não se intimidou:
- Para mim não é problema .. eu me dou bem nesses lugares e me garanto....não se preocupe, e obrigado pelo aviso.

O fortão se aproxima e fala mais manso:
- Ah.....deve rolar um sexo meio selvagem...

O confrade não aguentou e respondeu de imediato:
- Estou aqui faz 6 meses, sozinho....Agora que eu quero ir mesmo.
- E, aproveitando a dica, me diz uma coisa, qual o traje, já que por aqui eu fico muito a vontade?

Zezão encostou um dedo no peito do confrade, que se contorceu com o toque, e respondeu:
- Cê que sabe. É só nóis dois na festinha.

Virou-se e foi embora, mas deu uma paradinha com a mão na cintura, segurando o facão, disse por último:
- E não se atrase...