sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

O carnaval chegou

O Natal sempre foi uma festa mais reservada, apesar de que normalmente fazíamos uma ou duas visitas aos mais próximos, sempre com o objetivo da gula, claro. Logo depois o Ano Novo, e aí o bicho começava a pegar. Se não estávamos em algum acampamento, uns poucos, mais privilegiados, conseguiam entrar (ou penetrar) nos bailes do Vermelho e Preto, Sírio Libanês ou até mesmo do famoso Monte Líbano.
A Corra Dutra, durante alguns anos fez uma tradicional festa na rua, onde o pessoal da “de Cima” se confraternizava com a “de Baixo” e com o pessoal da redondeza. Normalmente iniciava logo depois do “sangue e areia” do “buraco quente”. O pessoal chegava meio capenga mas cheio de vontade de atacar nos drinks e no churrasco. Ali era o auge da galera. E hoje quando revemos as fotos parece que foi ontem. E isso é muito bom.



Sem sombra de dúvida, a festa da “Casa do Moita” era a mais concorrida e a mais difícil de conseguir uma senha, pois não era possível o acesso de todos. A escolha era difícil. Lembro como o Sérgio “Moita” ficava escorregadio. Não sei dizer quantas foram mas estive presente, se não me engano, em duas, e na última houve um fato interessante.

No decorrer da noite e após uns drinks, sentei de baixo da mesa com uma amiga (que não me lembro quem) e ficamos num papinho legal até que apaguei e fiquei. A festa acabou e de manhã, cedinho, com o sol direto na minha cara por uma fresta da janela, me levantei, uma surpresa para mim e para os que estavam na sala tomando café. Dei um tchau e fui embora de mansinho para a porta escutando no ar a gargalhada dos anfitriões.

A outra grande opção era o “Ano Novo no Brejo”, onde a maioria se encontrava para terminar os drinks e paquerar as amiguinhas que ainda estavam soltas. Era uma terra de ninguém e muita coisa rolava e o espaço é pequeno para contar.
  E passados uns dois meses, o “carnaval chegou”. Alguns viajavam, outros acampavam, mas para os que ficavam para a grande festa, o alvo principal era o Botafogo, ou Mourisco, como era conhecido o reduto dos ensaios da Portela, que nos meses anteriores nos preparava para a festa de Momo.

Foram muitos carnavais e muita história para contar. E uma das principais questões era “como fazer para entrar”? Valia tudo, menos pagar, pois a grana era exclusiva para os drinks e algumas coisinhas mais.
  












Tínhamos algumas opções e o maior especialista, sem sombra de dúvidas, era nosso saudoso Jhonny. O cara era demais. Tanto para entrar pela própria roleta, num momento de distração dos seguranças, e que depois ainda voltava para ajudar os demais, quanto para “preparar uma documentação hábil”, como identidades de jornalistas, de militares, e a mais comum, que eram as carteirinhas de sócios do clube.

Tinham também os mais afoitos, que pulavam os muros, mas isso valeu em apenas  um ano, pois no carnaval seguinte, os que tentaram tiveram uma desagradável surpresa do outro lado quando eram esperados por "maganhas" que faziam com que os foliões-atletas pulassem de volta pelo mesmo muro, que era bem mais alto do lado de dentro, e claro que eles davam umas pequenas “cacetadas” para ajudar no impulso.

Mas o “jeitinho” predileto eram as carteirinhas de sócio. Tinha um pequeno grupo de sócios fiéis e estes eram os mais visados para ”ajudarem” os demais, que eram subdivididos naqueles que “não eram sócios” e nos que “não estavam em dia”. E a solução, pelas hábeis mãos de Jhonny, eram as carteirinhas com “troca de retratos” e os recibos “atualizados”. A qualidade, para a época, era tanta, que praticamente todas normalmente eram aceitas nas portarias. Era um grupo seleto e muito bem orquestrado.


E alguns bailes ficaram e ficarão para sempre gravados nas memórias de cada um. Como o ano em que raspei a metade da barba. Tinha pego uma menina no salão e fui agarrado com ela quando de repente ela olhou para o outro lado e me deu um tapa pensando que era outro cara, não deu certo, dancei. Outro carnaval foi quando na saída, no ponto de ônibus, vimos um par de botas conhecido e fomos verificar, e junto com as botas, dentro da caçamba, seu dono, Betinho PQD,. Pescamos o cara e o levamos com a gente. E um outro baile inesquecível foi “o que não acabou”. Uma porradaria de primeira, com destaque para a participação de Paulinho Godá e de outros notáveis de nossa turma.

Passados mais de 30 anos dessas folias, os tempos são outros. Mais gente na rua. Blocos atrás dos trios elétricos ou não. Um transito intransitável. E por outro lado, além da sobrevivência de apenas alguns bailes, mas longe daqueles que passavam em todos os canais até a madrugada, e que, quando víamos, ficávamos atentos para achar um “algo mais” nos apertos e nas fantasias das meninas, nos restam nossos eventuais encontros, onde além dos drinks, sempre, contamos e recontamos nossas histórias, nossas aventuras e desaventuras, mas agora com atenção para os novos foliões: filhos, sobrinhos e netos, que aprendem com a gente como foram nossos carnavais, cercado de muita alegria, bagunça, muito samba e acima de tudo, com essa amizade que nos desde os carnavais de outrora.

E que venham mais carnavais, com mais alegria, com mais charme e com os grandes desfiles de nossas grandes Escolas de Samba.

Que o carnaval continue embelezado pelas "globelezas" e pelas lindas mulheres que transformam o Rio de Janeiro na Capital do Samba no Brasil.