quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

Meu lápis não morreu, porra...

E ganhamos um presente de Papai Noel, ou melhor de nosso querido amigo Beto Chahahahaira (gosto de escrever o nome dele assim). 

Betinho já nos brindo com alguns textos e se prestarmos atenção vamos notar sua versatilidade e na qualidade de sua escrita, e por isso só temos a agradecer e esperar que em 2023 ele esteja mais presente.

O texto a seguir é uma crônica interessante e divertida que cabe muito bem na sua presença de espírito, tenho certeza que vai agradar a todos.

E lá estava ele, num canto perdido e esquecido do escritório, moribundo, esquálido, inerte... mas havia um sopro de vida! Foi o que bastou! Olhei pra ele, entre esperançoso por fora e cético por dentro e gritei pra mim:

- Meu lápis não morreu, porra! Sei que também falam isso do Elvis, mas são histórias diferentes.

Ao m

esmo tempo ouvi um som, quase um sussurro,  praticamente imperceptível, que a princípio ignorei e continuei aquele monólogo de escritório vazio e saco cheio, perguntando pra mim com a certeza de que não responderia:

- E o que eu faço agora?

Foi quando aquele sussurro se fez robusto e tive a certeza de escutar:

- Me use, simplesmente, me use, porra!

Será que tanto tempo sem escrever me deixou "escutando coisas", pensei, já a esta altura estático e não muito corado, pra dizer a verdade, me cagando mesmo!

Mas aquilo não parou e voltei a escutar coisas:

- Você tem medo de quê?

Não era possível, pensei, sei que estou sozinho!

E a voz insistiu:

-  E está mesmo!

O estranho é que as vozes misteriosas pareciam vir do lápis????

Pois tive essa certeza no momento em que, mais incisivo ainda, aquilo me afrontou:

- Seres animados, pretensamente inteligentes mas que nunca souberam o que é "empatia"!

E, sem outra alternativa, após rezar todas as 2 orações que lembrava, me mantive corajosamente apavorado, agarrei-me aos 5% de lucidez que ainda me restava e resolvi não resolver porra nenhuma. Não conseguiria mesmo. E esperei o próximo susto! E veio um ensurdecedor silêncio! Mas não era o que eu queria...?

Só que não! E resolvi pensar, só pra variar:

"Me use"..."medo de quê?"... "sozinho"... "empatia"... entenderam? Nem eu, mas já é um começo. E parti em direção ao lápis, já que de tão perdido não achei a porta de saída!

Resolvi então pegar aquele objeto inanimado para desfazer qualquer hipótese de eventuais efeitos paranormais ou alucinógenos que poderiam ser atribuídos pelos presentes, no caso eu mesmo, até para provar minha sanidade mental (sic).

"Com qual das mãos vai me pegar", veio uma nova manifestação, aparentemente feita por aquele lápis! O mais ridículo foi que eu respondi:

- E qual a diferença?

E aquele objeto, aparentemente, respondeu:

- Me responda você?

Onde se lê aparentemente, na verdade, leia-se claramente!

E eu não soube responder uma aparentemente/claramente pergunta tão singela. E responder pra quem, pra um lápis????

De alguma maneira comecei a perceber que o lápis era a maneira mais fácil de não responder o que não sabia. Não preciso provar nada para um lápis, eu sei que sou mais inteligente que um lápis, as minhas opiniões são mais racionais que as de um lápis, o meu time é bem melhor que o time de um lápis (ufa!), eu sempre tenho mais razão que um lápis, aliás o lápis nem alma tem!

Tá certo!

Será que é por isso que não tenho usado aquele lápis?

Será por isso que tenho medo?

Será por isso que estou sozinho?

Saberia eu vivenciar a empatia?

Qual das mãos seria a "certa" para pegar o lápis?

Mas nem isso sei responder?

Porra!