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empre tivemos na Correa Dutra, personagens incríveis que
marcaram nossas lembranças; tanto na Correa de “baixo” quanto na de “cima”
vários personagens com características diversas deixaram sua marca em nossa
história.
Dentre elas, trago a lembrança de Landor de Lima ou
simplesmente Landor ou melhor ainda, “seu” Landor. Um malandro do início dos
anos 60, mas que não fazia o tipo do malandro do morro, daqueles de terno de
linho branco, chapéu de palha e sapato duas cores.
Landor fazia um tipo diferente, morador do 131, era aquele
camarada que no final da tarde, aparecia no bar do Manolo, próximo à Bento
Lisboa, trajando sua calça de Tergal (talvez comprada na Ducal), uma camisa
sempre clara, de manga curta, para dentro da calça – segura por um cinto fino
de couro que combinava em cor com seu mocassim. Elegante? Não diria; mas de
semblante barbeado, com um bigodinho fininho e bem cuidado sobre o lábio,
Landor com a altivez de um empresário bem sucedido, se encostava no balcão e
pedia uma dose de cachaça Crioula – Ele detestava Praianinha (não sei porque) e
um pedaço de torresmo; uma dose pro santo, seguindo o ritual já estabelecido e
começava os “trabalhos” puxando conversa com os outros fregueses e amigos que
ali já estavam.
Interessante, falarmos ou pensarmos no “seu” Landor como
empresário, pois um detalhe importantíssimo deve ser dito: O bacana nunca
trabalhou. Dizia que “uma pessoa como ele não poderia receber um salário
qualquer. Tinha de ser um valor que fizesse jus a sua qualificação”. E nessa, é
claro, não havia salário que lhe atendesse; até porque ele nunca procurou
emprego. Vivia do trabalho de sua mulher, Dona Chiquinha, mulher guerreira, que
veio jovem do Rio Grande do Norte e por missão ou infortúnio casou-se com
Landor. Foi pelo talento na arte de fazer cortinas, que Dona Chiquinha
sustentou seu único filho e seu marido (ou feitor como queiram).
Landor foi durante um período, “corretor zoológico”,
traduzindo: bicheiro. E foi por conta deste desvio de função anterior ao de
decorador/empresário que certo dia, a polícia fechou a rua para prender todos
os bicheiros. Foi um corre-corre, era tanta gente correndo e buscando se
esconder, que ninguém reparou naquele baixinho que entrou no prédio 131 e
simplesmente sumiu. Vários bicheiros foram presos. Faltava um, diziam.
Simplesmente fugiu, diziam outros. Nem sinal de Landor, que apesar de morar
neste prédio, não estava em casa; talvez, debaixo da cama, como se pensou.
Ah! Mas Landor não seria Landor se sua perspicácia não
tivesse lhe valido a ideia de se esconder dentro da cisterna do prédio. O homem
pulou dentro da cisterna de 3 m de profundidade e ficou agarrado na tubulação;
puxou a tampa e ficou ali até a polícia ir embora. Somente Oswaldo, o porteiro
sabia que ele estava ali.
Landor saiu de seu esconderijo, ensopado, mas com sua
altivez de sempre e disse: Não podem prender um homem de minha envergadura!
Imaginem, eu, no camburão. Pois sim!
Assim era Landor, que apesar de seu nome ímpar, refletia bem
a malandragem de uma época, que chega até a ser ingênua, perto do que vemos
hoje.
Tem mais histórias de Landor, depois eu conto mais.