quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Kibe conta histórias do Seu Landor



S
empre tivemos na Correa Dutra, personagens incríveis que marcaram nossas lembranças; tanto na Correa de “baixo” quanto na de “cima” vários personagens com características diversas deixaram sua marca em nossa história.

Dentre elas, trago a lembrança de Landor de Lima ou simplesmente Landor ou melhor ainda, “seu” Landor. Um malandro do início dos anos 60, mas que não fazia o tipo do malandro do morro, daqueles de terno de linho branco, chapéu de palha e sapato duas cores. 

Landor fazia um tipo diferente, morador do 131, era aquele camarada que no final da tarde, aparecia no bar do Manolo, próximo à Bento Lisboa, trajando sua calça de Tergal (talvez comprada na Ducal), uma camisa sempre clara, de manga curta, para dentro da calça – segura por um cinto fino de couro que combinava em cor com seu mocassim. Elegante? Não diria; mas de semblante barbeado, com um bigodinho fininho e bem cuidado sobre o lábio, Landor com a altivez de um empresário bem sucedido, se encostava no balcão e pedia uma dose de cachaça Crioula – Ele detestava Praianinha (não sei porque) e um pedaço de torresmo; uma dose pro santo, seguindo o ritual já estabelecido e começava os “trabalhos” puxando conversa com os outros fregueses e amigos que ali já estavam. 

Interessante, falarmos ou pensarmos no “seu” Landor como empresário, pois um detalhe importantíssimo deve ser dito: O bacana nunca trabalhou. Dizia que “uma pessoa como ele não poderia receber um salário qualquer. Tinha de ser um valor que fizesse jus a sua qualificação”. E nessa, é claro, não havia salário que lhe atendesse; até porque ele nunca procurou emprego. Vivia do trabalho de sua mulher, Dona Chiquinha, mulher guerreira, que veio jovem do Rio Grande do Norte e por missão ou infortúnio casou-se com Landor. Foi pelo talento na arte de fazer cortinas, que Dona Chiquinha sustentou seu único filho e seu marido (ou feitor como queiram).

Landor foi durante um período, “corretor zoológico”, traduzindo: bicheiro. E foi por conta deste desvio de função anterior ao de decorador/empresário que certo dia, a polícia fechou a rua para prender todos os bicheiros. Foi um corre-corre, era tanta gente correndo e buscando se esconder, que ninguém reparou naquele baixinho que entrou no prédio 131 e simplesmente sumiu. Vários bicheiros foram presos. Faltava um, diziam. Simplesmente fugiu, diziam outros. Nem sinal de Landor, que apesar de morar neste prédio, não estava em casa; talvez, debaixo da cama, como se pensou.

Ah! Mas Landor não seria Landor se sua perspicácia não tivesse lhe valido a ideia de se esconder dentro da cisterna do prédio. O homem pulou dentro da cisterna de 3 m de profundidade e ficou agarrado na tubulação; puxou a tampa e ficou ali até a polícia ir embora. Somente Oswaldo, o porteiro sabia que ele estava ali.

Landor saiu de seu esconderijo, ensopado, mas com sua altivez de sempre e disse: Não podem prender um homem de minha envergadura! Imaginem, eu, no camburão. Pois sim!
 
Assim era Landor, que apesar de seu nome ímpar, refletia bem a malandragem de uma época, que chega até a ser ingênua, perto do que vemos hoje.


Tem mais histórias de Landor, depois eu conto mais.