terça-feira, 17 de março de 2009

Ouvindo jazz com Ismael da Silva Barbosa

Rio que mora no mar
Sorrio pro meu Rio que tem no seu mar
Lindas flores que nascem morenas
Em jardins de sol
Rio serras de veludo
Sorrio pro meu Rio que sorri de tudo
Que é dourado quase todo o dia
E alegre como a luz

Rio é mar,
Eterno se fazer amar
O meu Rio é lua
Amiga branca e nua
É sol, é sal, é sul
São mãos se descobrindo em tanto azul
Por isso é que meu Rio da mulher beleza
Acaba num instante com qualquer tristeza
Meu Rio que não dorme porque não se cansa
Meu Rio que balança
Sorrio, sorrio, sorrio, sorrio, sorrio

Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli

Cá estou, ouvindo mais uma música de nosso infância. No auge da bossa nova e do surgimento de exponenciais da música popular brasileira. Tom, Vinícius, Menescal, Bôscoli, João Gilberto, Luiz Carlos Vinhas, Luizinho Eça, Tamba Trio, Baden, Leny Andrade e tantos outros que embalaram sonhos e juras de amor de nossos pais.
Época de tradução da corrente jazzística americana que circulava o mundo. O Brasil trazia uma linguagem diferenciada, uma cadência musical com um balanço típico da malemolência da mulher carioca...sempre tão belas e podemos dizer sem timidez....gostosas. Isto fazia e sempre fez a diferença.
Mas o que isto tem a ver necessariamente com o título deste texto? Simples. Falar de jazz e bossa-nova nos faz lembrar de Ismael – nego cestoso, sempre com um olhar perdido no horizonte, profundo conhecedor de jazz. Amigo leal, que sempre que alguns de nós precisamos fomos atendidos.
Sua ligação com a música vem de família. Seu irmão Anael era pianista e tocava em uma boate, lá no Beco das Garrafas, reduto jazzístico e berço da bossa nova. De gosto musical refinado, Ismael apresentou-me a alguns monstros do jazz, o que me influenciou bastante na escolha de minha coleção de LPs. Músicos como McCoy Tinner, John Coltrane, Miles Davis, Dizzy Gillespie, Ornette Colemann, Stan Getz, Stanley Clark, Herbie Hancock e tantos mais. Das divas...ahhh! As divas, a cantarem e me encantarem com suas vozes roucas, sofridas, deixando a melodia dominar minha alma. Nina Simone, Dinah Washignton, Billie Holliday, Alice Coltrane, Sarah Vaughan, Ella Fitzgerald e mais...e mais...
Dos músicos brasileiros, a nata se fez presente nos anos 80 e os ouvíamos em horas intermináveis iniciando logo após a praia e entrando noite adentro, esvaziando dúzias de Boêmia, que íamos buscar lá em Petrópolis, na fábrica. Importante dizer também, que inauguramos uma moda de beber conhaque Pedro Domecq com soda e muito gelo; e isto era o combustível que nos mantinha acesos curtindo aueles momentos de educação musical.
Mas voltemos ao Ismael, mesmo que atualmente o tenhamos perdido de vista. "Txisma", como as vezes o chamávamos, depois de sei lá quantas cervejas, tinha o costume de dormir bebendo. É. Isso mesmo que você está lendo. Dormir bebendo. Ele fechava os olhos e se desligava. A cerveja era sorvida lentamente para não derramar e por mais que os chamássemos só ouvíamos...”huuummm...huuumm....” seja lá o que isso significasse. Hilário...não...melhor...Ismael da Silva Barbosa.
As noites de domingo (já no finalzinho, tipo 10 horas) eram concorridas, pois tínhamos a certeza que Flora, sua esposa na época, lá estava a preparar as iguarias mais fantásticas pra que ele passasse a semana. Ah! Sim. Importantíssimo contar direito esta história. "Santa Flora" como carinhosamente a chamávamos, era uma daquelas bainas volumosas, iguais as que encontramos no Pelourinho e tão imortalizadas nas gravuras de Caribé; cozinheira de mão cheia, trabalhava na casa, do então, na época, ministro da educação Celso Portela; e por isso passava a semana toda na casa dele. No sábado a tarde ia pra casa, e reservava o domingo para cozinhar pro Txisma (Ismael) de tal forma, que ele passasse bem a semana, sem precisar cozinhar. Ora, sabedores disso, nossa visita tornou-se frequente nas noites do domingo, depois dos passeios com as namoradas. Um freezer abarrotado de cerveja Bohemia nos esperava, e os mais deliciosas pratos chegavam fumegando à mesa: bobó de camarão, peixe frito, muqueca de peixe, arroz de polvo, empadões, arroz, feijão com paio, etc..etc...etc...
Na vitrola, Simone cantava a “Cigarra”; Elis entoava “O bêbado e o equilibrista”, Gonzaguinha a cantar “Começaria tudo outra vez”, Marina, arrebentava cantando “Fullgas”, Milton Nascimento, com o “Calix Bento”; Chico com “Vai trabalhar vagabundo” e muitas e muitas jóias da MPB nos acompanhavam naquelas noitadas domingueiras.
Ismael hoje está um tanto afastado de nós. Residindo, (segundo me disseram) em São Gonçalo; deixando para trás, seu antigo endereço, na Tavares Bastos nº 5, naquele “predinho” de esquina, onde morou Ciro Monteiro (grande sambista carioca que alguns, creio, não se lembram mais). Continua “estranho” depois da quinta latinha...huuummm.....huuummm....Mas continua com o mesmo coração amigo de sempre.
Um brinde ao Txisma!

3 comentários:

Anônimo disse...

Isto é só um aperitivo...em abril, no dia 23, dia de São Jorge, Txisma faz aniversário...filho de Ogum; que não sei porque, nascido netse dia teve seu nome registrado com o Ismael...Taí uma coisa pra perguntar a ele e termos este depoimento em nosso acervo da Correa.
Bjos!

Anônimo disse...

Kibe

Encontrei Ismael em plena Rio Branco, depois de mais de 20 anos, foi muito bom ver que ele continua aquele maluco beleza dos velhos tempos.

O aperitivo para abril foi muito bom, já estamos selecionando os aniversariantes. Esperamos pela participação da galera.

bjundas presidenciais
JDrinks

Paulinho Goda disse...

Este é o cara ... meio pacato ... mais muito observador .. daquela janela .. o q esse negrinho n viu ... abraços
Goda