sexta-feira, 26 de junho de 2009

Os Jetsons, os Jacksons e nós!

Nos anos 70 muitos de nós estávamos no limiar da chegada à juventude. Fizemos parte de uma geração pós-hippie e de uma geração contestadora do período da ditadura militar. Mas não éramos nem uma coisa e nem outra. Estávamos meio que na transição destas duas frentes culturais e políticas.
Absorvíamos um pouco de cada uma, mas sem paixão. Estávamos na época em que os bailes e as matinées era o que tínhamos de mais ideológico naqueles dias. As meninas de calça “cocota” estilo pantalonas, blusa pólo com a barriguinha de fora (hoje algumas de nossas filhas as usam e as chamam de baby-look), o sapatinho de boneca as mantinham na altura original, e ainda tinham os tamanquinhos branquinhos que davam um charme especial aos “brotinhos”. Os meninos usavam a camisa colada comprada na Petit Balet, lá em Copacabana ou mandadas fazer nas costureiras das irmãs e namoradas. O sapato “cavalo de aço” com plataforma, mais parecia um sapato ortopédico – altos e largos – e com bicolores, onde o branco era a cor constante na combinação. O Paulinho Malandro mandava fazer os dele sob medida, em um sapateiro lá na Barata Ribeiro.
Dá vontade de rir, né mesmo!? A gente era meio esquisito. Mas era moda e por isso justificava-se o que hoje nos parece até ridículo.
Na televisão, os desenhos animados nos acompanhavam na hora do almoço. Os Jetsons representavam a típica família americana de um futuro imaginável. Brancos, de classe média, o estereótipo da família perfeita (ou quase), com direito a empregada robô e cachorro idiota que nem o dono, morando em um condomínio todo automatizado.
E de repente aparece outra família americana. Desta vez todos negros, com um garotinho que se destacava, tanto pela voz como pela coreografia ensaiada que o tornava alvo de modelo a ser copiado – Os Jacksons Five. Os anos se passaram e aquele menino tornou-se uma estrela, fazendo carreira solo e influenciando toda uma geração, com suas coreografias ousadas e sua música, de estilo pop.
Michael Jackson influenciou não só comportamentos como também embalou bailes e festas nas casa de alguns de nós e principalmente no Botafogo na sede do Morisco. Dançar Ben e Got Be There (ambas de 1972) de rostinho colado era caminho pro céu. O suor a escorrer em nossos rostos e a comprometer os cabelos das meninas, tão caprichosamente arrumados depois de horas e horas fazendo “touca”. O cabelo da turma “black” não merecia menos atenção, shampoo e creme rinse eram generosamente aplicados, para que depois fossem devidamente eriçados com uns garfos que serviam de pente e deixavam os “rebeldes” devidamente arrumados, tal qual ao do Michael, o caçula da família Jackson. O interessante que muitas vezes, as irmãs eram chamadas para ajudar na arrumação da “caixa de marimbondo”.
Mário, Frango, Tamba, Moita, Paulinho Malandro, Godá, Antero e Delaney; Maurinho, Felipe (lembram dele, jogava muita bola!), tinha o filho do “seu” Mariano, o Luis da Tavares Bastos, e outros tantos que se faziam presentes nos bailes do Botafogo, copiando a coreografia da famosa família e do astro ainda (!) negro.
Interessante que lá na Correa de cima, morou no 117 uma família de negros que era um misto da família Jackson Five com o Trio Ternura. Não me lembro do nome de nenhum deles, mas foi marcante a influência de MJ naquela família. Por onde será que andam? Sei que sempre estiveram envolvidos com música, mas isto já tem mais de 30 anos.
O mundo ontem, perdeu o Rei da Pop Music, vítima de um infarto. Polêmico, contestado, idolatrado, amaldiçoado; eternizado porém, através de suas músicas nos embalos de nossa juventude.
Descanse em paz MJ! Hoje nos embalaremos com saudades de suas músicas.

We never can say goodbye!Amém!


Claudio Kibe

5 comentários:

Drinks disse...

Kibe
Parabéns pelo texto. Colocou muito bem a relação MJ e nossa juventude. Com certeza nos levou a a viajar por um tempo q não volta mais.

sds
JDrinks

Anônimo disse...

Kibe, valeu ao ler este maravilhoso texto. Eu fui transportado por pensamento para aquela época boa, de muitos descobrimetos e afirmações. Estávamos dando seguimento a uma mudança de época, descobrindo um novo conceito de vida e nos descobrindo. As calças boca de sino tipo pijama, as sandálias de pneu, tamanco e outros trajes apropriados a época.
Valeu kibe por descrever com tanta propriedade sobre um passado recente tão maravilhoso.

Anônimo disse...

O comentário anônomo acima é meu
Abraços
Mario Neves.

Byra disse...

Kibe,

Belo texto. Sem saudosismos, somente a preocupação com os registros de um tempo que não volta mais. Entretanto, como o mundo gira, e nada se cria, tudo se copia, o que 'era', eventualmente 'volta a ser', com outro nome, com algumas variações, mas, guardando a 'essência'.
Valeu, kibe, obrigado pela 'viagem'.

Sds,
Byra

Texagain disse...

CK

Como disse no outro email belíssimas palavras

A família black era encabeçada na geração out Trio Ternura, pelo José Roberto e tinha um irmão mais novo que não lembro o nome. Tinham enormes Blacks Power e eram bem magros, tal e qual o MJ

Abs