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á dizia nossa vizinha Angélica, pelos idos de 1992, que “nós somos jovens”, “somos o exército do surf”. Versão de uma música francesa de 1964,
até hoje lembrada por todos nós.
É verdade que no nosso grupo não tivemos muitos surfistas, mas a grande
maioria esteve, está ou deseja estar junto ao mar. Crescemos no Brejo, mae sempre
que podíamos estávamos nas areias quentes e nas ondas do Arpoador, Ipanema, e
mais tarde, na Barra e Recreio, que cresceram junto com a gente.
As orlas das praias se transformaram com o tempo. Novas casas, prédios
altos e baixos, calçadas largas, quiosques e tudo mais que cresceram mais ou
menos rápido, dependendo do local.
Diria que seus entornos já não são tão jovens, mas as areias e suas
ondas, pouco ou quase nada mudaram. E é assim que acontece com todos nós. Nosso corpo mudou, uns engordaram, outros
emagreceram, nossas rugas começaram a aparecer, mudaram nossas faces, os
cabelos, de alguns sumiram, outros
embranqueceram, e nossos órgãos internos já não são os mesmos de 50, 60 anos
atrás. Então por que somos jovens? Nós somos jovens?
Nossa cabeça nos diz que nós somos jovens, somos o exército do surf,
estamos sempre a cantar, sempre a deslizar, a dançar, amamos o mar, e no
balanço, queremos alguém junto a cantar, tal como praticamente diz a letra da
música. No entanto, o que ela não consegue dizer é quem deve estar junto de nós
para dançar e cantar.
O problema é que enquanto o cérebro, órgão racional, apenas nos mostra
o caminho da juventude, de como nos manter jovens, como as areias e as ondas do
mar, nosso coração, de forma passional, nos carrega para a emoção, e de certa
forma, nos envelhece, quando, por exemplo, não conseguimos estar junto com quem
gostaríamos de estar.
Com o avanço das redes sociais, várias turmas conseguiram se reunir, se
reencontrarem, trazer lembranças, de todos os tipos, algumas com cicatrizes,
umas grandes, outras imperceptíveis para terceiros, mas que nunca se apagarão
para quem as carrega. São essas marcas, que verdadeiramente envelhecem o homem
e a mulher.
As rodas de conversas continuam como antes, na maioria do tempo dividas
entre os jovens que falam de futebol, bebidas, sexo, música e daquelas meninas
de 40 anos atrás. É um “papo reto”, com muitas risadas e lembranças de fatos
típicos, sempre repetidos nos anos seguintes, e dos amigos que já partiram,
vistos como heróis, protagonistas de lendas e histórias.
Elas se atualizam mais, apresentam fotos de filhos e netos, comentam
sobre os famosos regimes para manter as formas, e claro, como não poderia
deixar de ser, dos rapazes da época, dos mais bonitos, que hoje mudaram muito,
daqueles que pouco mudaram, daqueles que foram fisgados, e dos que conseguiram
escapar.
Em alguns momentos os grupos se misturam, dançam e conversam. Não tem como
evitar as piadinhas de alguns jovens que não conseguem manter a maturidade
necessária para tentar evitar pequenos constrangimentos. A vantagem é que nos
grupos, em geral, sempre aparecem os mais observadores, mais comprometidos em
manter a coesão do grupo, talvez um pouco menos jovens, e que conseguem fazer
com que nada avance além de algumas risadas escondidas.
No meio do papo, em qualquer bloco de conversas, sempre é lembrado que
fulano ficou com ciclano, beltrano com sicrano, e zutano com ninguém. Sabem, ou
ficam sabendo, que anos depois, fulano casou com sicrano e zutano casou várias vezes,
e assim por diante. E chegam aos dias atuais com as devidas atualizações, é a base
para esticar os papos e os drinks.
No entanto, esse é um tipo de papo que tem que ser mais racional, pois
de uma forma ou de outra pode ir além das simples lembranças, pode até machucar.
É a força do coração, que lança armadilhas para o envelhecimento precoce do
jovem, além de possíveis rachaduras no
corpo do grupo.
E para responder ao questionamento quanto ao porque ainda somos jovens,
imagino que assim continuaremos enquanto conseguirmos manter um equilíbrio,
mesmo que não seja perfeito, entre o racional de nossos cérebros e a emoção que
emana de nossos ardilosos corações. E para
combater essas armadilhas, temos que entender a letra da música, sem ser
preciso desenhar, como diriam alguns jovens de hoje. Além de uma pequena dica
dos mais velhos, a de não deixarmos que a danada da emoção invada além dos
muros de nossas individualidades.
Exército do Surf
L'esercito del surf. (Pattacini - Mogol)
vs: Neusa de
Souza
Nós
somos jovens
Jovens, jovens
Somos o exército do surf
Sempre a cantar
Vamos deslizar
E quem não souber
Eu vou ensinar
Vou dizer porque
Amo tanto o mar
Balançando assim
Você junto a mim
Vivo a cantar
Jovens, jovens
Somos o exército do surf
Sempre a cantar
Vamos deslizar
E quem não souber
Eu vou ensinar
Vou dizer porque
Amo tanto o mar
Balançando assim
Você junto a mim
Vivo a cantar
2 comentários:
Perfeito, me emocionei , senti na pele o arrepio do calor da emoção como uma adolescente que fui.
Passou um filme na minha cabeça de tantas coisas boas que vivi com vocês e todas as que marcaram pra sempre no coração.
Obrigada por postar fotos minhas ,é um prazer estar aqui com pessoas especiais .
Queria dizer que estou muito feliz de poder estar com todos vocês , tem coisas que só Deus vai explicar o porque de laços tão forte ainda até hoje.
FELIZ ANO NOVO , COM MUITA PAZ E SAÚDE
A vida é surpreendente, ela só estaciona uma única vez,de vez. Enquanto nesse intervalo,lhe dá o direito de tudo, hora você chora,hora você sorrir,hora você sonha,hora você realiza,mas nunca para. O tempo passa,mas não passou,pq quando estamos só,temos realmente os nossos sessenta anos,mas quando estamos juntos,somos jovens de sessenta,nossa mente trás as lembranças do passado,e baquelite momento, nos tornamos jovens novamente,mostrando que nosso amizade está viva,é pq que não sonhar na com a juventude,e nela trazer inspirações e sonhos. Afinal naquele momento,somos todos jovens do Exército do Surf.
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