quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Foi um rio que passou em nossas vidas - I



    Um dia desses, recebi um pedido, via e-mail, de meu irmão Mário Jorge, para que eu escrevesse um texto sobre Paulinho da Viola. Por que Paulinho? Talvez alguém perguntasse. E lhes digo por que. Porque Paulinho da Viola entrou em nossas vidas na década de 70, no auge de nossa juventude. Na época em que dividíamos com o rock progressivo do Yes, Pink Floyd, Jetro Tull, os sambas que embalavam nossas noites nos ensaios da Portela. Isso foi marcante na maioria de nossas histórias pessoais.
    Sendo assim, meu irmãozinho, aqui está um pouco de conheci, estudei e vivenciei, deste artista Maior da nossa música popular brasileira.

    Há tempos atrás, publiquei em nossa lista, um texto que versava sobre a elegância. Não propriamente, sobre a elegância no vestir, simplesmente. Mas da elegância de ser; da elegância na maneira de tratar as pessoas, de ser cordial e fraterno, de ser elegante por só ser. Assim, simplesmente.
     Busquei na memória, quem eu conhecia, mesmo que não fosse pessoalmente, que se enquadrasse nessa virtude rara nos dias de hoje. Lembrei-me de um de imediato. Por incrível que pareça, um sambista. Ataulfo Alves. Sempre de terno, uma estampa de elegância, que mesmo cantando samba, parecia que tinha saído da vitrine do alfaiate. Mas nesse mesmo instante, lembrei-me de outra pessoa. Já meu contemporâneo e a quem rendo minhas homenagens neste texto.
Paulo César Batista de Faria; para quem não conhece - Paulinho da Viola.
Nascido em Botafogo, em 12 de novembro de 1942, desde cedo bebeu nas mãos de seu pai as músicas que tanto lhe influenciaram em sua carreira de sambista. E que sambista; senhores e senhoras!
Foi nessa época, ainda menino, que Paulinho conheceu Jacob do Bandolim e Pixinguinha, entre outros músicos importantes que frequentavam sua casa, nos ensaios do conjunto Época de Ouro, em que seu pai era um dos integrantes.
Um poeta como estamos acostumados a ver e ouvir nas letras de sambas de Cartola, Nelson Cavaquinho, Helton Medeiros, Candeia, Monarco e tantos e tantos outros, que minha memória não se atreve a continuar, tal a quantidade de poetas conhecidos e desconhecidos.
Paulinho teve seu primeiro sucesso em 1965 – Jurar com Lágrimas. Um samba que cantamos alguns anos mais tarde, nas rodas de samba da promovidas pelos encontros no boteco do Manolo, na Correa Dutra.

Jurar com lágrimas
Que me ama
Não adianta nada
Eu não vou acreditar
É melhor nos separar...(...)

Assim foi, seu primeiro sucesso.
Sinal Fechado” chegou em plena época da ditadura militar – 1969. Éramos meninos ainda, em nossa maioria. Não percebíamos ainda, o que acontecia no cenário político e tampouco fazíamos leituras subliminares do que a maioria das músicas carregavam em seu real significado.

Olá, como vai?
Eu vou indo e você, tudo bem?
Tudo bem eu vou indo correndo
Pegar meu lugar no futuro, e você?
Tudo bem, eu vou indo em busca
De um sono tranquilo, quem sabe...
Quanto tempo...pois é...
Quanto tempo...(...)

Ainda tão atual esta música.
Na década de 70, Paulinho gravou uma média de um disco por ano; e foi em 1973 que ele compôs “Comprimido” – composição que motivou Mário a me pedir para escrever este artigo. O retrato de uma cena comum, dos desvarios das paixões cariocas – mas que servem para o mundo inteiro.
Este samba foi marcante para mim. Coincidentemente tocou meu irmãozinho Mário Jorge. Não sei por que me tocou nem tampouco a ele (nunca me disse. Imagino, mas não tenho convicção); mas é uma letra contundente, que dificilmente alguém fica insensível a ela.

Deixou a marca dos dentes
Dela no braço
Pra depois mostrar pro delegado
Se acaso ela for se queixar
Da surra que levou
Por causa de um ciúme incontrolado

Ele andava tristonho
Guardando um segredo
Chegava e saía
Comer não comia
E só bebia
Cadê a paz
Tanto que deu pra pensar
Que poderia haver outro amor
Na vida do nego
Pra desassossego
E nada mais

Seu delegado ouviu e dispensou
Ninguém pode julgar coisas do amor
O povo ficou intrigado com o acontecido
Cada um dando a sua opinião
Ela acendeu muita vela
Pediu proteção
O tempo passou
E ninguém descobriu
Como foi que ele
Se transformou

Uma noite
Noite de samba
Noite comum de novela
Ele chegou
Pedindo um copo d’água
Pra tomar um comprimido
Depois cambaleando
Foi pro quarto
E se deitou
Era tarde demais
Quando ela percebeu
Que ele se envenenou

Seu delegado ouviu
E mandou anotar
Sabendo que há coisas
Que ele não pode julgar
Só ficou intrigado
Quando ela falou
Que ele tinha mania
De ouvir sem parar
Um samba do Chico
Falando das coisas do dia-a-dia

Linda canção!....

    Assim nos foi apresentado um novo compositor, mas com a categoria de quem parecia ter nas veias a experiência de veterano. Coisas de poeta. Coisas de músico verdadeiro. Maneiras de ser de quem tem a elegância por dom.
Mas tem mais a dizer de Paulinho e de nós...

2 comentários:

J Drinks disse...

Kibe

Vlw pelo presente.

Feliz Natal para todos.

mario neves disse...

Kibe meu amigo,valeu,grande comentário de uma de várias músicas do Mestre Paulinho da Viola,que marcaram nossa juventude intensa.


Um Feliz Ano Novo para todos.
Abs.
Mario Neves