Como raramente eu me incursionava pelo outro lado da Corrêa Dutra, não conhecia os meninos de lá. Talvez por isso, tenha conhecido Godá quando eu já tinha uns 14 ou 15 anos.
Magro, mas com pinta de atleta, o cabelo encarapinhado como era moda na época, normalmente o via sem camisa – talvez para impressionar as meninas – ou talvez porque no Rio, até hoje, quase todo mundo tem o costume de andar sem. Sorriso franco com os amigos – o que parece ser uma marca de família, pois sempre via nos rostos de seus irmãos uma expressão de simpatia. Meu pai gostava dele, achava um menino “com cara boa” como costumava me dizer.
Na praia parecia estar em seu habitat natural, pois afinal de contas, nadar era seu mister, seu domínio, atleta de esporte que desde aquela época era tão desconhecido entre a maioria dos brasileiros – a gente falava “water-pólo”, num casamento da língua inglesa com a brasileira, com a licenciosidade permitida ao povo que prefere as coisas mais simples.
Lá ia aquele camarada, já rapaz de uns 18 anos, correndo no Aterro, com seu cachorro Skipper, acho que era esse o nome. Um poodle gigante, preto com o pelo encarapinhado quase igual ao do dono.
Fazer amigos, talvez seja uma de suas principais características, pois apesar de morar na Corrêa da Praia (ou “de baixo” como quiserem os mais ortodoxos), Godá se aproximou do pessoal da Corrêa de cima (essa não teve jeito de mudar). É bem possível que a sua afinidade com a turma de cá tenha sido pela faixa etária, pois seus irmãos e a maioria do pessoal de lá era um pouco mais velho. Pouca coisa, mas era. Mas 4 anos de diferença em uma determinada época de nossas vidas faz muita diferença; pois quando tínhamos 16, 17; a turma da Praia já tinha 20, 21.
Estudante do Colégio Pedro II, foi meu contemporâneo e do Vieira também (se não me engano). Aquela gravatinha azul, fininha, muitas das vezes servia de faixa pro cabelo, num claro sinal de rebeldia às tradições do famoso colégio fundado por D. Pedro II. Mas era moda, ou pelo menos a gente fazia aquilo sem compromisso nenhum com qualquer tipo de modismo ou ideologia.
Brigão, esse adjetivo ninguém pode negar. Do sorriso franco ao peito estufado como se quisesse “nadar” pra cima do desafeto e deitar-lhe algumas braçadas. Principalmente se a encrenca fosse com um de nós ou com um dos seus. Recentemente Godá me contou de uma briga que ele teve com outro menino, por causa de uma pipa. Ele estava lá no Aterro, feliz com sua pipa sem cerol, dibicava, fazia piruetas, rasgava o céu do Flamengo quando de repente veio outra pipa, veloz como um raio e zás....a linha com cerol fez a pipa do menino Godá voar sem rumo, solta ao sabor do vento.
A ira tomou-lhe de conta. Inevitável foi o embate com aquele que lhe tinha cortado, literalmente a alegria; e como ele mesmo diz até hoje: “o pau cantou!”. Ah! pobre menino, levou uns catiripapos, pescoções e coisas do gênero da briga de rua. O menino saiu correndo e Godá subiu para seu apartamento; e só desceu quando soube que o menino tinha chamado seu irmão e outros colegas, queixando-se da surra que tinha levado. Parecia que a coisa ia ficar preta, ou pelo menos roxa. Daí surge, uma figura, toda de branco. O colar de ouro não disfarçava o gosto duvidoso, mas denotava a presença de uma “autoridade”. Felipe de Felipe e Felipe – o Barão! Bicheiro famoso do Catete e que muitos de vocês devem lembrar-se. “O que que tá havendo?” perguntou com aquela voz que rouca. Godá explicou que estava soltando pipa e que o garoto tinha cortado e coisa e tal. A turma da Corrêa de baixo e a turma do moleque já estavam prontinhas pra explodirem. Barão determinou: “Vão brigar só os dois!”. E quem se atreveu a dizer que não!?
“O pau cantou!” e o menino apanhou de novo. Uma vez separados, a honra tinha sido lavada. Godá perdeu a pipa, mas o menino ganhou...bem, algumas cicatrizes.
Essa é um pouco da história deste amigo que aniversaria hoje, dia 13 de outubro, e faz 53 anos.
Ao nosso querido amigo, desejamos dias de felicidades, com saúde, e que você possa brincar com os filhos de seus netos, ensinando-os as boas coisas que você aprendeu nesta vida. Uma delas, a fazer amigos.
Claudio Kibe.
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